É uma comédia que se acumula no dia-a-dia. Um sujeito vai ao café ler o jornal, e o café está inundado de crianças que não respeitam nada, nem os pardalitos e os pombos, e os pais "ai, desculpe, ele é hiperactivo", que é como quem diz "repare, ele não é mal-educado, ou seja, eu não falhei e não estou a falhar como pai neste preciso momento porque devia levantar o rabo da cadeira para o meter na ordem, mas a questão é que isto é uma questão médica, técnica, sabe?, uma questão que está acima da minha vontade e da vontade do meu menino, olhe, repare como ele aperta o pescoço àquele pombinho, é mais forte do que ele, está a ver?". E o pior é que a comédia já chegou aos jornais. Parece que entre 2007 e 2011 disparou o consumo de medicamentos para a hiperactividade. Parece que os médicos estão preocupados e os pais apreensivos com o efeito dos remédios na personalidade dos filhos. Quem diria?
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016
As crianças não são hiperativas, são mal-educadas
É uma comédia que se acumula no dia-a-dia. Um sujeito vai ao café ler o jornal, e o café está inundado de crianças que não respeitam nada, nem os pardalitos e os pombos, e os pais "ai, desculpe, ele é hiperactivo", que é como quem diz "repare, ele não é mal-educado, ou seja, eu não falhei e não estou a falhar como pai neste preciso momento porque devia levantar o rabo da cadeira para o meter na ordem, mas a questão é que isto é uma questão médica, técnica, sabe?, uma questão que está acima da minha vontade e da vontade do meu menino, olhe, repare como ele aperta o pescoço àquele pombinho, é mais forte do que ele, está a ver?". E o pior é que a comédia já chegou aos jornais. Parece que entre 2007 e 2011 disparou o consumo de medicamentos para a hiperactividade. Parece que os médicos estão preocupados e os pais apreensivos com o efeito dos remédios na personalidade dos filhos. Quem diria?
domingo, 14 de fevereiro de 2016
Estratégias para melhorar a atenção e memória sustentadas na criança com TDAH
domingo, 18 de outubro de 2015
Processamento da informação em crianças com Déficit de atenção ou TDAH
- Registro ou memória sensorial
- Memória de curto prazo
- Memória de trabalho
- Memória de longo prazo
sábado, 3 de janeiro de 2015
TRANSTORNO BIPOLAR NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA
Muitas são as dúvidas sobre o transtorno bipolar do humor. E quando o tema é o transtorno em crianças e adolescentes, a confusão é ainda maior. Como saber se o diagnóstico é correto quando os sintomas podem ser muitas vezes, tão inespecíficos? É sempre um problema, mas quando a desordem bipolar afeta uma criança, a situação se agrava, os problemas triplicam, cedendo lugar ao caos. Mesmo profissionais capacitados podem encontrar sérias dificuldades para fechar um diagnóstico de transtorno bipolar do humor juvenil e iniciar um tratamento correto. Tudo prejudica. Tudo conspira contra. O mundo fica cinza...
Doutora, eu não sei mais o que fazer com o meu filho! Me ajuda! Ele não pára de gritar, bate a cabeça na parede, diz que quer morrer o dia todo! Porque isso, meu Deus? a senhora acredita em mim, não é? Pois ele fica um anjo de tempos em tempos mas de repente, tudo vira e parece que um monstro entre nele e ele parece um demônio!
O que fazer?
Não é fácil. Conhecido até o início da década de 90 pelo nome de psicose maníaco-depressiva, o transtorno bipolar nem sempre é fácil de ser identificado. Até receber o diagnóstico correto, um paciente pode ser levado a consultar-se com três médicos diferentes, num calvário que demora anos fora os meses necessários para chegar ao medicamento certo e às doses adequadas, depois de constatado o distúrbio. Reconhecer o transtorno bipolar na infância é ainda mais complexo. Na maioria dos adultos, as manifestações clínicas são clássicas o humor oscila de um extremo ao outro, da alegria incontrolável e raciocínio veloz à depressão e apatia. No caso das crianças, não é comum ocorrer essa gangorra emocional. A doença se apresenta por meio de uma conjunção de sintomas menos específicos, como impulsividade, irritabilidade, dispersão, agitação e acessos de raiva.
Por causa dos sintomas pouco específicos, é recorrente que a criança bipolar seja diagnosticada com outros males, como o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e a depressão. Para fazer o diagnóstico diferencial, é preciso ficar atento a sinais de humor cíclico e analisar o histórico familiar. Quase metade das pessoas que sofrem de transtorno bipolar tem outros casos na família.
Até a década passada, os especialistas que defendiam que a doença podia aparecer em crianças eram vistos com reservas". Vinte anos atrás, publicavam-se cerca de dez estudos científicos por ano relacionados à bipolaridade infantil menos de um décimo do que se publica hoje. Há uma escassez de médicos capazes de reconhecer a desordem bipolar e como tratá-la. Crescer é muito difícil para crianças com desordem bipolar. A última coisa que precisamos é de diagnósticos errados e tratamento para o que não temos.
A constatação de que crianças manifestam o transtorno é positiva, já que antecipa o tratamento, mas tem uma contrapartida: um grande número de diagnósticos apressados. Muitos médicos sem experiência clínica com bipolaridade acabam por prescrever remédios pesados a seus pacientes, sem examinar mais a fundo o quadro. Outro problema que ocorre é gerado pelo fato de que a sociedade desconhece os transtornos mentais. Transtornos mentais em criança, pior ainda! Muita gente ainda acha que criança não deprime e que fica ansiosa. Criança, pensando em morrer? Ah! Imaginem, é muito pesado para os pais sequer levantarem essa hipótese... o que contribui para um desconhecimento dos sintomas e um atraso muito grande na realização de um diagnóstico e tratamento. Vemos que normalmente a mãe percebe. Ah, a mãe desconfia. Ela pode até não saber explicar o que o filho dela tem, mas ela sabe que ele tem alguma coisa . O clima em casa e na escola fica sombrio e a angústia toma conta da família. Não tardam as brigas, os gritos, xingamentos e muitas vezes, a violência pode tomar conta daquela família. Separações são freqüentes. A sensação de impotência e incompetência toma conta de todos. Todos ficam como algemados, sem saber o que fazer. Uns, ficam esperando pelo dia de amanhã, pois quem sabe, Deus ajuda e o menino acorda mais calmo...
O Transtorno Bipolar do Humor na Infância e Adolescência é uma condição que precisa ser muito divulgada e conhecida por todos nós. Os portadores precisam conhecer a fundo o mecanismo do problema. A família também, pois assim eles se unirão e se fortalecerão, no sentido de conseguir calma e tranqüilidade para prosseguirem no tratamento de modo correto.
Evelyn Vinocur é psicoterapeuta cognitivo comportamental. Atua na área de saúde mental de adulto e é especializada em saúde mental da infância e adolescência.
terça-feira, 3 de junho de 2014
A ritalina e os riscos de um 'genocídio do futuro'
Cida Moysés – Não sabemos verdadeiramente o motivo de faltar o medicamento, mas isso criou uma instabilidade nas pessoas. As famílias ficaram muito preocupadas e entraram em pânico, com medo de que os filhos ficassem sem esse fornecimento. Isso foi sentido de um modo muito mais intenso do que com outros medicamentos que de fato demonstram que sua interrupção seria mais complicada que a ritalina. São os casos dos medicamentos para diabetes ou hipertensão. Apesar de não conhecermos a razão dessa falta do medicamento, sabemos das estratégias de mercado para outros produtos como o açúcar e o café que faltam no supermercado e, por isso, também para os medicamentos que faltam na farmácia. Quando somem das prateleiras, eles criam angústia. No entanto, em geral, retornam mais tarde. E mais caros, é óbvio.
Cida Moysés – A ritalina, assim como o concerta (que tem a mesma substância da ritalina – o metilfenidato, é um estimulante do sistema nervoso central - SNC), tem o mesmo mecanismo de ação das anfetaminas e da cocaína, bem como de qualquer outro estimulante. Ela aumenta a concentração de dopaminas (neurotransmissor associado ao prazer) nas sinapses, mas não em níveis fisiológicos. É certo que os prazeres da vida também fazem elevar um pouco a dopamina, porém durante um pequeno período de tempo. Contudo, o metilfenidato aumenta muito mais. Assim, os prazeres da vida não conseguem competir com essa elevação. A única coisa que dá prazer, que acalma, é mais um outro comprimido de metilfenidato, de anfetamina. Esse é o mecanismo clássico da dependência química. É também o que faz a cocaína.
Cida Moysés – Para quem indica, é nos casos com diagnóstico de TDAH. Eu não indico. Para esses médicos, entendo que é necessário traçar uma relação custo-benefício: quanto ganho com esse tratamento em termos de vantagens e de desvantagens. Sabe-se que é uma droga que possui inúmeras reações adversas, como qualquer droga psicoativa. Considero extremamente complicado usar uma droga com essas reações para melhorar o comportamento de uma criança. Qual é o preço disso?

Cida Moysés – As reações adversas estão em todo o organismo e, no sistema nervoso central então, são inúmeras. Isso é mencionado em qualquer livro de Farmacologia. A lista de sintomas é enorme. Se a criança já desenvolveu dependência química, ela pode enfrentar a crise de abstinência. Também pode apresentar surtos de insônia, sonolência, piora na atenção e na cognição, surtos psicóticos, alucinações e correm o risco de cometer até o suicídio. São dados registrados no Food and Drug Administration (FDA). São relatos espontâneos feitos por médicos. Não é algo desprezível. Além disso, aparecem outros sintomas como cefaleia, tontura e efeito zombie like, em que a pessoa fica quimicamente contida em si mesma.
Cida Moysés – Ocorre que isso não é efeito terapêutico. É reação adversa, sinal de toxicidade. Além disso, no sistema cardiovascular é possível ter hipertensão, taquicardia, arritmia e até parada cardíaca. No sistema gastrointestinal, quem já tomou remédio para emagrecer conhece bem essas reações: boca seca, falta de apetite, dor no estômago. A droga interfere em todo o sistema endócrino, que interfere na hipófise. Altera a secreção de hormônios sexuais e diminui a secreção do hormônio de crescimento. Logo, as crianças ficam mais baixas e também essa droga age no peso. Verificando tudo isso, a relação de custo-benefício não vale a pena. Não indico metilfenidato para as crianças. Se não indico para um neto, uma criança da família, não indico para uma outra criança.
Cida Moysés – Está se tornando. E não vai se resolver colocando um diagnóstico de uma doença neurológica ou neuropsiquiátrica e administrando um psicotrópico para uma criança.

Cida Moysés – Um levantamento de 2011, publicado pelo equivalente ao Ministério da Saúde nos Estados Unidos, envolve uma pesquisa feita pelo Centro de Medicina baseado em Evidências da Universidade de McMaster, no Canadá, que analisou todas as publicações de 1980 a 2010 sobre o tratamento de TDAH. O primeiro dado interessante foi que, dos dez mil trabalhos que provaram que o metilfenidato funciona, é seguro, apenas 12 foram considerados publicações científicas. Todo o resto foi descartado por não preencher os critérios de cientificidade. Esse é um aspecto muito importante. Dos 12 trabalhos restantes, o que eles encontraram foi que a orientação familiar tem alta evidência de bons resultados, e o medicamento tem baixa evidência. Isso não quer dizer que a família seja culpada. É preciso orientá-la como lidar com essa criança. Além disso, os dados dessa pesquisa sobre rendimento escolar foram inconclusivos, assim como não há nenhum dado que permita dizer que melhora o prognóstico em longo prazo. Fala-se muito que, se a criança não for tratada, vai se tornar uma dependente química ou delinquente. Nenhum dado permite dizer isso. Então não tem comprovação de que funciona. Ao contrário: não funciona. E o que está acontecendo é que o diagnóstico de TDAH está sendo feito em uma porcentagem muito grande de crianças, de forma indiscriminada.
Cida Moysés – Quando se fala em 5% a 10% de pessoas com determinado problema, o conhecimento médico exige que se assuma que isso é um produto social, e não uma doença inata, neurológica, como seria o TDAH, e muito menos genética. Não dá para pensar em porcentagens. Em Medicina, sobre doenças desse tipo fala-se em 1 para 100 mil ou em 1 para 1 milhão. Então, é algo socialmente que vem se produzindo. Quando digo isso, de novo, não estou dizendo que a família é a culpada. Pelo contrário, é um modo de viver que estamos produzindo.
Cida Moysés – São as crianças questionadoras (que não se submetem facilmente às regras) e aquelas que sonham, têm fantasias, utopias e que ‘viajam’. Com isso, o que está se abortando? São os questionamentos e as utopias. Só vivemos hoje num mundo diferente de 1.000 anos atrás porque muita gente questionou, sonhou e lutou por um mundo diferente e pelas utopias. Quando impedimos isso quimicamente, segundo a frase de um psiquiatra uruguaio, “a gente corre o risco de estar fazendo um genocídio do futuro”. Estamos dificultando, senão impedindo, a construção de futuros diferentes e mundos diferentes. E isso é terrível.

Cida Moysés – Isso se deve a valores culturais, fundamentalmente.
Cida Moysés – Não necessariamente. Ninguém pode dizer que os EUA não sejam desenvolvidos. Não obstante, o país é o primeiro grande consumidor mundial da ritalina, da onde irradia tudo. O Brasil vem logo em seguida, como segundo consumidor mundial. Ao contrário do que se propaga, de que a taxa de prevalência é a mesma em todos os lugares, isso não é verdade. Varia de 0,1% a 20%, conforme o estudo da Universidade McMaster do Canadá. Varia de acordo com valores culturais, região geográfica, época e conforme o profissional que está avaliando. Há trabalhos que mostram, por exemplo, que médicas diagnosticam mais TDAH em meninos e que médicos mais em meninas, provavelmente por uma falta de identificação. Alguns trabalhos mostram que crianças pobres têm mais chances de receber o diagnóstico. Estamos falando de uma Era dos Transtornos – uma epidemia dos diagnósticos. A França tem uma resistência muito grande a isso por uma questão de formação de médicos, de valores da sociedade. Lá eles têm um movimento muito grande desencadeado por médicos, muitos deles psiquiatras, que se chama collectif pas de 0 de conduite. Esse movimento surgiu como reação à lei que propunha avaliar o comportamento de todas as crianças até três anos de idade. Era um modelo que pegava especificamente pobres e imigrantes. O movimento conseguiu derrubar tal lei.
Cida Moysés – Temos uma articulação mais recente que é o Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade, o qual eu e o Departamento de Pediatria da FCM-Unicamp integramos. O nosso Departamento é o seu membro fundador, tendo mais de 40 entidades acadêmicas profissionais e mais de 3.000 pessoas físicas no Brasil, que estão buscando difundir as críticas que existem na literatura científica sobre isso. Além do mais, procuramos construir outros modos de acolher e de atender as necessidades das famílias dos jovens que vivenciam e sofrem com esses processos de medicalização. Em novembro, a Unicamp promoverá um Fórum Permanente sobre Medicalização da Vida, que irá abordar essas questões de medicalização e de patologização da vida. Todos estão convidados.
domingo, 12 de janeiro de 2014
domingo, 2 de junho de 2013
TRATAMENTO MULTIDISCIPLINAR
Agitado, impulsivo, sem limites. Era assim que o filho de Maria do Carmo* se comportava quando ela percebeu que havia algo errado com a criança de apenas seis anos. Ao procurar ajuda psicológica e psiquiátrica, a mãe soube que o diagnóstico era de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). A partir dali, foi para a internet pesquisar sobre o assunto.
Moradora do interior do Estado, teve a sorte de encontrar na Capital uma médica especializada e logo começou uma bateria de exames para confirmar o diagnóstico. Após eletrocefalograma, testes motores e muita conversa com os pais, o resultado foi confirmado por exclusão, e optou-se pelo tratamento reunindo medicação e psicoterapia. A sorte é que a família tem plano de saúde e condições para desembolsar cerca de R$ 200 mensais para pagar a medicação. Do contrário, teria de esperar em média dois anos na fila para obter tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Um equipe multidisciplinar reunindo neurologista, pediatra, psicopedagogo, entre outros profissionais, está tratando o menino há um ano e meio. Até acertar a medicação, foram testados três tipos de comprimidos. Porém, apesar de considerar a importância do remédio, a mãe diz que ele não é tudo – é preciso atuar em várias frentes, estabelecer rotinas e controlar.
Caso o transtorno não fosse identificado na infância, o menino poderia crescer acompanhado por uma série de problemas, e é isso que Maria do Carmo tenta evitar. Ela conta que, desde que descobriu o transtorno, passou a frequentar o encontro mensal do grupo de apoio da Associação Brasileira de Déficit de Atenção, onde aprendeu formas de lidar com a questão e pôde também compartilhar com outras mães seus desafios na criação do filho. Esse apoio a fortaleceu, inclusive, para enfrentar a resistência da própria família em relação ao tratamento.
* O nome foi alterado porque a entrevistada não quis se identificar.
Meu filho- Jornal Zero Hora
quarta-feira, 8 de maio de 2013
TDAH O que é?
http://www.publisaude.com.br/portal/artigos/para-o-leigo/o-transtorno-de-deficit-de-atencao.html
segunda-feira, 4 de março de 2013
A PÍLULA DA POLÊMICA
Diagnósticos errados ajudam a fazer de Porto Alegre a capital brasileira líder em consumo de medicamentos para o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade
Como maior centro de diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) no país, é compreensível que a capital gaúcha acabe também tendo também o maior índice de casos da doença diagnosticados. Esses e outros fatores tornaram Porto Alegre a capital brasileira líder em consumo de medicamentos para o problema, segundo pesquisa divulgada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no último dia 18. Mas os especialistas admitem: muitas pessoas – entre elas, crianças e adolescentes – utilizam esses remédios sem necessitá-los.
Coletados a partir dos registros do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC) da agência, os dados mostraram que, entre 2009 e 2011, o uso de metilfenidato – comercializado no Brasil com os nomes Ritalina e Concerta – aumentou 75% na faixa dos seis aos 16 anos.
Defensor da ideia de que o medicamento ajuda a reduzir um sério problema do desenvolvimento humano e infantil, o psiquiatra Luis Augusto Rohde, responsável pelo Programa de Transtornos de Déficit de Atenção/Hiperatividade do Hospital de Clínicas, concorda que, em muitos casos, a prescrição é feita indevidamente, em consultas rápidas. Entre os adultos, o problema maior são as pessoas que apenas desejam aumentar o desempenho nos estudos. Entre crianças e adolescentes, desatenção e agitação podem acabar justificando o uso do remédio.
A questão é que nem toda criança agitada e dis- traída tem TDAH. O diagnóstico é bem mais complexo do que isso, alerta a psicóloga Lilian Shontag. Mesmo que a criança apresente todos os sintomas – desatenção, impulsividade, baixa tolerância a frustração, tendência a se distrair facilmente e excessiva atividade em hora e lugar errados – pode não ter a doença.
No seu consultório, a psicóloga Alice Peres Duarte recebe inúmeras crianças com o problema diagnosticado. A maioria delas, no entanto, poderia estar recebendo um tratamento que não se encontra na farmácia:
– Vejo crianças muito novas sendo tratadas indevidamente. Da amostra que atendi, boa parte não precisaria estar sendo medicada. Precisava, sim, era de pais mais presentes.
Segundo Alice, são crianças ansiosas, carentes, que fazem uma série de peripécias para chamar a atenção. Elas têm um estilo de vida solitário e atitudes que, às vezes, extrapolam o limite da gracinha e resultam em comportamentos atrapalhados ou desatentos. E fazem isso para atrair o olhar dos responsáveis.
Os efeitos costumam ser notados na escola, quando professores diagnosticam dificuldade na aprendizagem ou veem crianças que querem fazer tudo ao mesmo tempo, mas não conseguem terminar nada. O fato faz com que alguns professores indiquem que os pais procurem tratamento. A psicóloga conta que vários pacientes chegam recomendados pelas escolas.
– Elas querem soluções a curto prazo. Mas muitas vezes a criança é encaminhada, medicada, e os conflitos continuam. Cada criança tem uma história. Não se pode uniformizar o tratamento.
Lara Ely
terça-feira, 21 de agosto de 2012
UM ALERTA URGENTE AOS PAIS E PROFESSORES...
GERAÇÃO RITALINA -> Ligo a TV e, pra minha surpresa, vejo uma matéria sobre a venda livre de ritalina em Porto Alegre. Usei ritalina por muitos anos. Usei ritalina não porque sou dependente química, mas porque era dependente do modo de vida que exigia ritalina. Larguei a ritalina quando ela começou a ser o remédio mais difícil de encontrar. RITALINA SEMPRE EM FALTA. "Vendo mais ritalina do que aspirina", diz o farmacêutico. Pois é, pessoal. Uma triste realidade que parece loucura para meus novos amigos, mas uma realidade massiva nas novas gerações, que tanto pesquiso e amo.
Ritalina é o remédio pra déficit de atenção e hiperatividade. Ela trabalha no córtex cerebral, aumenta o fluxo de dopamina e noradrenalina, neurotransmissores que funcionam mal em pessoas com déficit de atenção. Mas é a geração que ama correr, que ama consumir sexo, consumir festa, consumir chocolate, que ama consumir tudo muito rápido, tudo ao mesmo tempo, tudo motivado pela dopamina. Ode à dopamina! Nos anos 90, éramos todos bipolares de acordo com a medicina e a mídia. Nos anos 2000, tínhamos déficit de atenção: toca ritalina na criança! Ela tem DDA.
DÉFICIT DE ATENÇÃO? Eu fui professora sete anos da minha vida e dava aulas pra essas crianças e adolescentes. Eram centenas de jovenzinhos correndo e gritando ao redor. Conversei com cada um deles e ninguém está desenvolvendo tais doenças. O que acontece é consequência natural do modo de vida atual. Nossos parâmetros não acompanham a mudança estrutural do próprio cérebro. Queremos ter o cérebro do artesão na era da separação máxima, a separação da experiência de vida do próprio indivíduo. TOCA RITALINA NA CRIANÇA. Ela emagrece, foca, fica quietinha e produz que é uma beleza.
NÃO EXISTE DÉFICIT DE NADA, EXISTE UM SISTEMA IMPOSSÍVEL DE VIDA. Acordar 6am e ser paga pra pensar, pensar o dia inteiro e concluir o dia pensando na faculdade até 23h. Pensar com prazo, pensar pra ontem. Pensa isso, lê isso, sabe aquilo, decora aquilo outro, o sistema do conhecimento exige potencializadores cerebrais, OBVIAMENTE. Não é à toa que descobrimos as falhas no córtex das novas gerações. Mal posso esperar a vinda de Susan Greenfield ao Brasil este ano. O que está acontecendo com o cérebro dos jovens?
É UM NOVO CÉREBRO, NÃO UM CÉREBRO DOENTE. Não existe mais emoção alguma nas coisas que fazemos, é isso que eu concluo. Símbolos se tornaram ícones, situações se tornaram fatos. Consequentemente, a memória de curta duração se expande e a memória de longa duração se perde. Trabalha, memória de curta duração!!! Decora fatos, ícones, nomes, imagens. É isso que te forma. É isso que forma teus dias. E é o que mais ouvimos:
O BOM DA TECNOLOGIA É QUE PODEMOS FAZER TUDO AO MESMO TEMPO. É a frase favorita da geração Milênio, a geração da perda de significado, como tem sido chamada por grupos de psicólogos. Sem significado, sem memória de longa duração. Trabalhando na curta, precisamos da ritalina pra focarmos, pra não esquecermos o que fizemos há 5min.
Eu tive provas exigindo o placar do jogo do Grêmio de ontem. No mesmo dia, me exigiam redações emotivas sobre qualquer coisa que também não fazia parte de mim. Não existe coerência alguma e o conhecimento é sempre descontextualizado. A culpa não é da academia. A culpa é de todos nós, que aceitamos o modo de vida do conhecimento separado. Ah, Fedro. Teu diálogo nos avisava que o primeiro livro faria isso conosco. Mas, mesmo que o livro seja a primeira tecnologia da inteligência a separar o conhecimento, a culpa não é do livro. A culpa é nossa por viver os fatos cotidianos como histórias em livros. Tragédia x catarse em seu ápice. Taí a consequência que pedimos há séculos. Finalmente, estamos separados de tudo. Finalmente, não temos ligação com os próprios fatos que vivemos. Finalmente, preciso de uma droga pra me ligar à minha própria vida.
A culpa é nossa por aceitarmos cada experiência de vida como instagram. Por viver cada momento como um show no palco, como uma festa no álbum do face, como um relacionamento que se apaga no status. Preciso lembrar/preciso esquecer. São as chaves da era da rede. Adiciona/exclui. Brincamos com o cérebro como cobaias num experimento.
GERAÇÃO RITALINA, a geração sem foco, a geração sem significado, a geração sem memória de longa duração, a geração ícone, geração fato, geração manchete, geração avatar facilmente deletável. Não adianta se opor à Ritalina. Quanto mais lutamos contra a indústria farmacêutica, mais ela cresce, porque ela é consequência de um modo de vida que pedimos diariamente. Tua contradição alimenta a indústria.
Ode ao texto que escrevi no perfil antigo e que apavorou todo mundo: eu não uso drogas, minha vida é uma droga. Nada é mais verdadeiro do que isso. Nossa vida é a droga, a ritalina é uma consequência da nossa aceitação e potencialização do sistema. Se não querem ritalina, mudem todo sistema, que já está falido mesmo. Quanto mais falido o sistema das imagens, mais as novas gerações potencializam as imagens.
OS PAIS PERMITEM E SE APAVORAM COM O USO DE DROGAS. Pai, menos. Tu aceitou isso, agora abraça o kit que tu deu pro teu filho. Teu filho é parte do sistema com o teu aval. Teu filho é a geração da ode à dopamina.
E eu...? Eu cortei até o chá de São João. Nenhuma ina no meu corpo será permitida. Dia após dia, corto mais e mais. Meu objetivo é a saída total disso daqui. Fim de ritalina, nicotina, cafeína, taurina, efedrina, dopamina. Fim de imagem, separação, contradição. Quanto menos ina no meu corpo, melhor. É o que eu posso fazer pelo mundo, por mim, por ti e por meus filhos. Não adianta lutar contra a indústria quando tudo está interligado. Não existe separação. Tua luta separada contra a indústria alimenta a indústria da separação.
Beijo pra quem fica e ótimo dia pra nós!
Dia de filosofia com o britânico Simon Blackburn.
Pra que serve a filosofia? – pergunta Blackburn... Pra eu saber que cada ato meu no mundo é uma guerra amorosa contra este sistema.
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
O JOGO DE XADREZ COMO ESTRATÉGIA DE INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA PARA ALUNOS COM TRANSTORNO POR DÉFICIT DE ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE
A pesquisa apresentada está vinculada ao Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) do estado do Paraná. Esta tem como objeto de estudo o aluno com transtorno do déficit de atenção/hiperatividade (TDAH), o qual é um transtorno funcional específico que leva crianças e adolescentes a prejuízos acadêmicos e sociais devido aos sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade. Desta forma,buscou-se alternativas para contribuir nos processos de atenção dos alunos com TDAH, usando como estratégia atividades relacionadas ao Jogo de Xadrez. Nesse processo realizou-se a produção de um Caderno Pedagógico, contendo fundamentação teórica e sugestões de atividades para serem desenvolvidas com alunos com TDAH, matriculados na Sala de Recursos. A intervenção pedagógica foi realizada na Escola Estadual Monteiro Lobato, Ponta Grossa/PR, pela professora de Educação Física, proponente deste estudo do PDE e escolares com TDAH. Como resultado, verificou-se que os escolares melhoraram os níveis de atenção sustentada, seletiva e executiva. Destaca-se a melhora na auto-estima dos alunos com TDAH que participaram desse estudo, além disso o relato dos professores desses educandos do Ensino Regular quando referem-se a mudança visível desses educandos em relação a mobilização, interesse e produção escolar. Conclui-se a pesquisa afirmando que o estudo possibilitou aos
professores ampliar os conhecimentos e provocar mudanças qualitativas na prática escolar da escola pública paranaense, estabelecendo o diálogo entre os professores das Universidades e os da Educação Básica, por meio de troca de experiências e produção de conhecimentos.
1 INTRODUÇÃO
Ensinar é uma tarefa que impõe desafios diários e variados para o educador. Ensinar uma criançacom TDAH (Transtorno por Déficit de Atenção e Hiperatividade) é ainda mais desafiador, pois cada criança com ou sem transtorno é única.
No contexto escolar há uma grande diversidade de educandos, os quais apresentam suas singularidades e especificidades. Muitas vezes, o professor desconsidera a individualidade dos escolares propondo atividades de forma coletiva, o que se traduz posteriormente em dificuldades de aprendizagem.
É comum a queixa dos docentes que o aluno não aprende porque é desatento e/ou indisciplinado. O Transtorno por Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) é um dos mais frequentes distúrbios que ocorrem nas crianças. Não existe uma única forma de TDAH e com o tempo ela pode sofrer alterações imprevisíveis. Esse distúrbio afeta a criança na escola, em casa e na comunidade em geral, muitas vezes prejudicando seu relacionamento com professores, colegas e familiares (SARRIÀ, 1995, p.160). Para haver um diagnóstico deste transtorno, os sintomas devem interferir significantemente na vida da criança, num comportamento crônico, com duração de no mínimo seis meses e as características devem estar presentes em mais de um ambiente (DSM – IV, 1995).
O TDAH tem sido atualmente objeto de estudos de vários profissionais, tanto da área médica quanto educacional. Este transtorno caracteriza-se pela desatenção, agitação motora excessiva - hiperatividade e auto-regulação de impulsos - impulsividade, os quais favorecem a manifestação de problemas de aprendizagem, de relacionamento familiar, escolar e social (DSM – IV, 1995; RIZO; RANGE 2003; ROHDE; BENCZIK,1999).
Muitos educadores (VYGOTSKY; LURIA; LEONTIEV, 2006; PIAGET, 1975; WALOON, 1981) sugerem a utilização de jogos e brincadeiras como metodologia de ensino e aprendizagem com vistas a contribuição no desenvolvimento da inteligência, da criatividade, da linguagem, da sociabilidade, da afetividade e da organização do pensamento.
A função social da escola é propiciar a todos os alunos o saber sistematizado ao longo da história da humanidade. No decorrer do trajeto muitos podem ser os obstáculos encontrados no processo de ensino e de aprendizagem.
De acordo com Blanco (1995) o professor precisa ter clareza de como a criança aprende, pois o conceito de aprender determina o de como ensinar. Responder adequadamente a cada aluno significa entender que cada escolar tem seu ritmo, seu estilo, seus interesses, seus limites e suas possibilidades. Em síntese, “é a escola que deve adaptar-se à criança e não o contrário, como ocorreu até agora” (BLANCO,
1995, 308).
Isso significa entender que o espaço escolar é um ambiente de diferenças e de diversidades, portanto, exige de os educadores novas compreensões acerca dos fatores que interferem na aprendizagem dos alunos, bem como mudanças nas estratégias, nos encaminhamentos metodológicos e avaliativos do processo ensino-aprendizagem.
Pois, o enfrentamento aos desafios educacionais contemporâneos (educação ambiental; educação em/para direitos humanos; prevenção ao uso indevido de drogas; enfrentamento a violência, educação inclusiva e outros) necessita dos docentes uma formação sólida e consistente, para enfrentar e propor ações educativas de qualidade para essas demandas (SEED, 2009).
Uma educação que se propõe inclusiva e de qualidade para todos, deve re(conhecer) as diferenças e diversidades, respeitando-as e compreendendo os limites e os avanços de seus educandos. Isso só será possível, se o professor propor intervenções pedagógicas considerando as singularidades e subjetividades
presentes no espaço educativo da unidade escolar (BRASIL, 2004).
Desta forma, justifica-se a realização deste estudo, pois realizou um trabalho pedagógico com uma população considerada pelos educadores difícil de ser trabalhada, a saber: o aluno com TDAH.
Pensando na inclusão deste educando e na sua sociabilização, e que algo deveria ser realizado para diminuir suas dificuldades acadêmicas, muitas vezes geradas pela falta de entrosamento no meio em que vive e no seu ambiente escolar, utilizou-se como ferramenta pedagógica o jogo.
Este é considerado como uma importante atividade na educação de crianças, uma vez que permite o desenvolvimento afetivo, motor, cognitivo, social, moral e a aprendizagem de conceitos, pois jogando a criança experimenta, descobre, inventa, exercita e confere suas habilidades, estimulando a curiosidade, a iniciativa e a auto confiança, proporcionando aprendizagem, desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração da atenção, sendo indispensável à saúde física, emocional e intelectual da criança (HUIZINGA, 1996).
Sendo assim, dentre os vários jogos que desenvolvem a atenção e concentração utilizou-se o jogo de xadrez como estratégia de intervenção pedagógica para alunos com TDAH. A atividade com o xadrez possibilita ao aluno: jogar atendendo as normas, adaptar-se a um código comum, tendo liberdade para criar iniciativas e acatar limites não violando regras. Ademais o jogo favorece o planejamento estratégico (atenção executiva), o manuseio das peças no tabuleiro (atenção seletiva) e a concentração no jogo (atenção sustentada), habilidades estas que o aluno com TDAH apresenta extrema dificuldade em atividades escolares, o objetivo do jogo de xadrez é propiciar de uma forma prazerosa o domínio dessa função cognitiva superior (D’AGOSTINI, 2002;TIRADO; SILVA, 1996).
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 CARACTERIZAÇÃO DO TRANSTORNO POR DÉFICIT DE ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE
O Transtorno por Déficit de Atenção/Hiperatividade é considerado um problema de saúde mental, o qual se manifesta pela desatenção, agitação motora excessiva (hiperatividade) e impulsividade (DSM IV, 1995; ROHDE; BENCZIK, 1999).
Pesquisas têm abordado sobre possíveis causas para o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, como a hereditariedade, problemas durante a gravidez ou no parto, exposição a determinadas substâncias, problemas familiares. Mas, como afirma Rohde e Benczik (1999, p.58), é importante lembrar que muitas destas pesquisas somente mostram uma associação entre estes fatores, mas não mostram uma relação de causa e efeito.
De acordo com o DSM IV (1995) os sinais e os sintomas de cada característica são observados de diferentes maneiras, tanto no âmbito escolar quanto fora dele, ou seja:
a) Desatenção
- incapacidade de fixar atenção a detalhes e, por isso, comete erros nos exercícios escolares;
- incapacidade de sustentar a atenção nas brincadeiras, jogos e atividades escolares;
- incapacidade de escutar o outro;
- incapacidade em seguir roteiros e completar as tarefas solicitadas;
- incapacidade na organização dos materiais e das tarefas;
- incapacidade em realizar atividades as quais exijam esforço mental;
- incapacidade de manter-se atento frente a estímulos distratores;
- incapacidade de lembrar-se das atividades rotineiras;
- incapacidade de não perder os materiais e os objetos.
b) Hiperatividade
- incapacidade de manter os pés e as mãos parados;
- incapacidade de manter-se sentado por um período longo;
- incapacidade de detectar situações perigosas (corre, sobe e desce em locais inapropriados);
- incapacidade de executar uma brincadeira silenciosamente;
- incapacidade motora (excessiva perseveração);
- incapacidade de manter-se quieto (fala excessiva).
c) Impulsividade
- incapacidade de esperar sua vez;- incapacidade de não se intrometer em conversas e brincadeiras alheias;
- incapacidade de ouvir o término da pergunta, responde precipitadamente.
Estes sintomas do Transtorno por Déficit de Atenção/Hiperatividade podem ser classificados em três subtipos: a) Tipo Combinado; b) Tipo Predominantemente Desatento; c) Tipo Predominantemente Hiperativo/Impulsivo.
O manual de diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM – IV, 1995) considera o diagnóstico de TDAH a manifestação desses conjuntos de sintomas (pelo menos seis de cada subtipo) em contextos diversificados, os quais ocorrem frequentemente pelo menos por seis meses. Os pesquisadores
(BARKLEY, 2002; BENCZIK, 2000; RODHE; MATTOS, 2003) indicam que várias são as causas do transtorno, como por exemplo: fatores genéticos, ambientais e sociais.
Alguns pesquisadores adicionam outros sintomas, como por exemplo: humor instável, depressões freqüentes, caligrafia de difícil entendimento (SILVA, 2006). De acordo com Andrade (2003) nos primeiros anos de vida da criança já se pode detectar alterações no processo de desenvolvimento neurológico e emocional, pois algumas crianças apresentam choro excessivo, sono agitado, poucas horas de sono e irritabilidade. Com o decorrer dos anos, a agitação dessas crianças muitas vezes leva-as a quebrarem os brinquedos, perderem o interesse pelas brincadeiras e se machucarem, com frequência.
Para Rohde e Benczik (1999) os infanto-juvenis com características de hiperatividade, impulsividade e desatenção tendem a apresentar desvantagens em espaços que exijam habilidade de atenção, de controle motor e de impulsos, os quais são de extrema importância em tarefas da vida diária e escolar. Neste sentido, é comum as crianças e os adolescentes com TDAH apresentarem baixa auto estima devido ao seu comportamento, muitas vezes, são rotulados de mal educados, inconvenientes, sem limites, o que levam a se isolarem ou serem rejeitados em grupos.
2.2 REDES DE ATENÇÃO
Toda atividade consciente humana requer a atos de atenção (VIGOTSKI, 2001). A atenção é de suma importância na realização consciente de uma atividade quer seja escolar ou não. Luria (1981) infere que toda atividade mental organizada e planejada humana possui algum nível de direção e de seletividade. Portanto, define atenção como a organização do caráter direcional e a seletividades dos processos mentais.
Para Luria (l981) o cérebro humano é um órgão que comanda todo o organismo, dele depende toda capacidade de receber, codificar, elaborar as informações e programar as ações. O cérebro é formado por três unidades ou blocos, suas funções são essenciais, pois, delas dependem toda atividade organizada e consciente do homem.
O primeiro bloco do cérebro é formado pelo tronco encefálico, hipotálamo e talámo, e tem comofunção a manutenção do tônus cerebral, o controle do sono, da vigília, da atenção e da memória.
A segunda unidade funcional do cérebro é composta pelas regiões posteriores do cérebro (occiptal, temporal e parietal). A função primária deste bloco consiste em receber, processar e armazenar as informações das áreas auditivas, visuais e tátil-cinestésica.
Essas regiões são subdivididas em áreas primárias, secundárias e terciárias. As áreas primárias recebem todo tipo de informações, selecionam os estímulos recebidos e distribui para as áreas secundárias. O córtex visual possibilita a entrada da informação, as áreas 17 (córtex estriado), no mapa citoarquitetônico de Broadmann tem a função de simplificar o processamento das informações recebidas (KAJIHARA, 1993).
O córtex auditivo está localizado nas áreas 41 e 42 (giro temporal transverso) responde estímulosacústicos variados. O córtex sensorio-motor está localizado nas áreas 1, 2,3 e 4 de Broadmann, toda informação processada nesta área envolve processos receptivos auditivos, visuais e somestésicos (KAJIHARA, 1993).
A área terciária tem função de organização espacial de impulsos que chegam às diferentes zonas cerebrais. A terceira unidade funcional é formada pela região anterior do cérebro e está conectada com o tronco cerebral incluindo a formação reticular. Tem a função de programar, regular atenção e concentração e verificar ação consciente do homem (LURIA, 1981).
A aprendizagem só acontece quando o sistema nervoso central está em condições favoráveis, integrado e coordenado com seus componentes. Alterações no sistema nervoso central manifestam em problemas de aprendizagem, mas especificamente em aritmética, leitura e escrita dos alunos. Benczik (2000) destaca alguns fatores que contribuem para o insucesso escolar do aluno com TDAH, como por exemplo, a formação pedagógica insuficiente na compreensão dos transtornos da aprendizagem, excesso de educandos matriculados na mesma turma, má remuneração dos docentes, o que dificulta buscar novos cursos complementares acerca das dificuldades no processo de ensino e aprendizagem.
2.3 CONSIDERAÇÕES EDUCACIONAIS DO TDAH
Benczik e Bromberg (2003) consideram alguns fatores que contribuem para o desempenho e a adaptação do escolar com TDAH, a saber: o atual sistema de educação no Brasil; as intervenções educacionais e o desempenho escolar do aluno com TDAH; a função da escola e do professor naadaptação e flexibilização curricular dessa população.
De acordo com as autoras supracitadas a escola desconsidera as diferenças individuais tratando deforma homogênea todos aqueles que passam por ela. A demais, o sistema educacional enfatiza, apenas, os aspectos cognitivos do ensino e da aprendizagem, renegando outras habilidades, como por exemplo,
cinestésica, musical, espacial e outras. Para Macedo (2005, p.12) “tanto a dimensão intelectual como em nosso cotidiano, deparamo-nos com o diferente, com o que surpreende, com aquilo que transgride nosso esforço de redução ao conhecido”.
O tratamento de crianças com TDAH supõe intervenção psicológica, pedagógica e médica. Diante da diferença, toda escola, todo educador tem que apresentar-se aberto à diversidade e oferecer respostas às necessidades concretas de todos os alunos, transpondo os modelos rígidos e inflexíveis, dirigidos ao aluno médio (BLANCO, 1995). A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394/96 refere-se no seu artigo 59 a obrigação das escolas na adequação do ensino para aqueles que apresentarem necessidades educativas especiais.
O referido artigo destaca:
Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais:
I- currículos, métodos, técnicas, recursos e organização específicos, para atender às suas necessidades;
II- terminalidade específica para aqueles para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados;
III- professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns.
Sendo assim, é direito do aluno um ensino diferenciado e flexibilizado com currículos adaptados e processos avaliativos diversificados, os quais atendam as necessidades educacionais especiais singulares do educando.
Acreditamos que o sucesso na sala de aula pode exigir uma série de intervenções. A maioria destas crianças pode permanecer na classe regular, com pequenas intervenções no ambiente estrutural da escola, modificação de currículo e estratégias adequadas à situação, como por exemplo o jogo.
2.4 O JOGO
O jogo é considerado como uma importante atividade na educação de crianças, uma vez que permite o desenvolvimento afetivo, motor, cognitivo, social, moral e a aprendizagem de conceitos, pois jogando a criança experimenta, descobre, inventa, exercita e confere suas habilidades, estimulando a curiosidade, a iniciativa e a auto confiança, proporcionando aprendizagem, desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração da atenção, sendo indispensável à saúde física, emocional eintelectual da criança (HUIZINGA, 1996).
O jogo é considerado uma atividade lúdica que envolve três funções:
1- Socializadora (através do jogo a criança desenvolve hábitos de convivência);
2- Psicológica (pelo jogo a criança consegue controlar seus impulsos);
3- Pedagógica (o jogo trabalha a interdisciplinaridade, a heterogeneidade e o erro de forma positiva, tornando a criança agente ativo no processo de desenvolvimento).
O jogo possibilita o “aprender-fazendo” e para ser mais bem aproveitado é conveniente que proporcione atividades dinâmicas e desafiadoras, que exijam participação ativa da criança.
As relações cognitivas e afetivas, consequentes da interação lúdica, propiciam amadurecimento emocional e vão construindo a sociabilidade. O jogo, compreendido sob a ótica do brinquedo e da criatividade, deverá encontrar maior espaço para ser entendido como educação, na medida em que os professores compreenderem melhor toda a sua capacidade potencial de contribuir para o desenvolvimento dos escolares.
No jogo existem as regras e depois que todos a conhecem têm as mesmas oportunidades, e aprendem a aceitá-las, pois o desafio está, justamente, em saber respeitá-las, esperar sua vez, aceitar o resultado do jogo ou de um fator de sorte que o determine, são excelentes exercícios para lidar com frustrações e, ao mesmo tempo, elevar o nível da motivação (HUIZINGA, 1996).
Para Piaget (1975) nos jogos de regras existe algo mais que a simples diversão e interação, pois, eles revelam uma lógica diferente da racional. Este tipo de jogo revela uma lógica própria da subjetividade necessária para a estruturação da personalidade humana quanto à lógica formal, advinda das estruturas cognitivas. Optou-se pelo Xadrez por uma atividade primordial por excelência, não só por atender às características de desporto, estimulando, entre outros, o espírito competitivo e autoconfiança, bem como, adequando-se às exigências da educação moderna e elevando a auto-estima da pessoa para além do xeque-mate. Por isso sugere-se a utilização do jogo de xadrez como estratégia de intervenção pedagógica para alunos que apresentam TDAH.
A atividade com o xadrez possibilita ao aluno: jogar atendendo as normas, adaptar-se a um código comum, tendo liberdade para criar iniciativas e acatar limites não violando regras (D’AGOSTINI, 2002; TIRADO; SILVA,1996).
2.5 O JOGO DE XADREZ
No xadrez, o tempo todo está se criando jogadas, das mais simples às mais complexas, para se alcançar o objetivo proposto que são: capturar o adversário, proteger nossas próprias peças, atacar o Rei adversário, entre outras. Dessa forma, a prática do jogo parece potencializar o desenvolvimento de habilidades como: planejamento estratégico (atenção executiva), o manuseio das peças no tabuleiro (atenção seletiva) e a concentração no jogo (atenção sustentada).
Ainda desenvolve várias habilidades como atenção (indiscutível para qualquer aprendizagem, é fundamental durante o jogo, dentre outras coisas para que não cometam lances impossíveis), concentração, julgamento, planejamento, imaginação (é necessária para conseguir abstrair o sentido da representação gráfica expressa por uma determinada palavra), antecipação, memória (base de toda e qualquer aprendizagem e no xadrez é requisitada o tempo todo, desde o nível mais elementar do jogo até o mais avançado), vontade de vencer, paciência, autocontrole, espírito de decisão e coragem, lógica matemática, criatividade, inteligência e também é um excelente meio de recreação e de formação de caráter dos adolescentes dando a possibilidade desse aluno progredir segundo seu próprio ritmo (PINTO; CAVALCANTI, 2005).
Além dessas habilidades é possível observar sua interferência nas seguintes áreas do desenvolvimento (PINTO; CAVALCANTI, 2005):
ÁREA MOTORA: Coordenação viso motora, coordenação dinâmica manual, orientação espacial.
ÁREA COGNITIVA: Memória, atenção e concentração, raciocínio, antecipação e planejamento, bem como a sua linguagem.
ÁREA AFETIVO-EMOCIONAL: Socialização.
ÁREA ACADÊMICA: Construção do número e oralidade.
O xadrez (GIUSTI, 2006) é um jogo muito antigo, e não se sabe ao certo sua origem. Uma das versões, muito conhecida como a verdadeira história do xadrez é a “Lenda de Sissa”. "Conta-se que o rajá indiano Balhait, entediado com jogos em que a sorte acabava prevalecendo sobre a perícia e a habilidade do jogador, pediu a um sábio de sua corte, chamado Sissa, que inventasse um jogo que valorizasse qualidades nobres, como a prudência, a diligência, a lucidez e a sabedoria, opondo-se às características de aleatoriedade e fatalidade observadas no nard (antigo jogo indiano com
dados).
Passado algum tempo, Sissa se apresentou ao rajá com sua invenção. Tratava-se de um tabuleiro quadriculado, sobre o qual se movimentavam peças de diferentes formatos, correspondendo cada formato a um elemento do exército indiano: Carros (Bispos), Cavalos, Elefantes (Torres) e Soldados (Peões), além
de um Rei e um vizir (Rainha). Sissa explicou que escolheu a guerra como tema porque é a guerra onde mais pesa a importância da decisão, da persistência, da ponderação, da sabedoria e da coragem.
O rajá ficou encantado com o jogo e concedeu a Sissa o direito a pedir o que quisesse como recompensa. Sissa tentou recusar a recompensa, pois a satisfação de ter criado o jogo, por si só, já lhe era gratificante. Mas o rajá insistiu tanto que Sissa concordou em fazer um pedido:
- Desejo, como recompensa, um tabuleiro de Xadrez cheio de grãos de trigo, sendo que a primeira casa deve ter um grão, a segunda deve ter dois, a terceira deve ter quatro, a quarta deve ter oito, e assim sucessivamente, dobrando o número de grãos na casa seguinte, até encher todas as casas do tabuleiro com
o número de grãos correspondentes.
O rajá se recusou a satisfazer um pedido tão modesto, e tentou persuadir Sissa a escolher uma recompensa mais valiosa. No entanto, Sissa disse que para ele bastava que lhe fosse conferida aquela recompensa, e nada mais.
Diante disso, o rajá ordenou que lhe dessem um saco de trigo, julgando que nele haveria pagamento de sobra, mas Sissa se recusou a aceitá-lo. Disse que não queria nem um grão a mais nem a menos do que lhe cabia receber.
Foi só então que o rajá ordenou aos seus matemáticos que calculassem a quantia exata que deveria ser paga, e descobriu, para sua consternação, que todo o trigo da Índia não era suficiente, aliás, todo o trigo cultivado no mundo, durante dezenas de anos, não seria suficiente! A quantia era 264 - 1 grão de trigo, que corresponde à soma da série: 1 + 2 + 4 + 8 + 16 + 32 + 64 + 128 + 256 + 512 + 1.024 + 2.048 + 4.096 + ... + 9.223.372.036.854.775.808, isto é, 18.446.744.073.709.551.615 grãos de trigo!
Para alívio do rajá, Sissa disse que já sabia que sua recompensa não poderia ser paga, pois aquela quantidade daria para cobrir toda a superfície da Índia com uma camada de quase uma polegada de espessura."
No decorrer da história do jogo de xadrez, diversos países, tais como: Egito, Pérsia, Grécia, Irlanda, Índia, entre outros, são apontados como o berço do xadrez. Na atualidade, a maioria dos pesquisadores concorda que o jogo tenha se originado no norte da Índia, baseado na prova linguística que indica que os termos para a palavra xadrez, nas línguas portuguesas, árabe, persa, turca, grega e espanhola, derivam do sâncrito Chaturanga. É apenas nesta versão que contém os três animais citados até hoje no xadrez: o cavalo, o elefante e o camelo, que representam respectivamente o cavalo, o bispo e a torre no xadrez. Segundo Tirado e Silva (1996) com o Advento da Renascença Italiana, em 1485, o jogo de xadrez sofre alterações definitivas, transformando-se em um jogo mais competitivo. Novos poderes foram dados a algumas peças (dama, bispos, peões); nascendo assim o xadrez moderno. O xadrez moderno foi basicamente criado a partir do século XV e finalizado no século XIX. O jogo de xadrez (D’ AGOSTINI, 2002) é um esporte intelectual, que é jogado entre dois adversários ou em equipes. Os adversários iniciam o confronto com forças iguais, ou seja, com o mesmo número de peças, que são de cores diferentes, geralmente pretas e brancas.
Este jogo é realizado sobre um tabuleiro quadrado, dividido e sessenta e quatro casas. Dispõem-se o tabuleiro de maneira que o jogador tenha a sua direita a casa angular branca. As sessenta e quatro casas do tabuleiro formam as 8 colunas, as 8 horizontais e as diagonais.
Todas as casas do tabuleiro possuem uma denominação específica que é dada pelo encontro de uma fila (horizontal), com uma coluna (vertical). As colunas recebem letras de “a” até “h” e as filas que são enumeradas de “1” a “8”. As peças que estão sobre ele e se movimentam segundo leis convencionais são em número de 32, cabendo 16 para cada lado e são as seguintes: 2 torres, 2 cavalos, 2 bispos,1 dama e 1 rei.
Os peões estendem-se pela segunda horizontal; as torres formam nas casas angulares; os cavalos junto às torres; os bispos ao lado dos cavalos. A dama branca ocupa a casa branca, a dama preta ocupa a casa preta. Os reis situam-se nas casas restantes.
Cada peça tem seu movimento próprio:
Rei – É a peça principal do jogo. O rei se movimenta para todos os lados, de uma em casa.
Dama - A dama movimenta-se em todas as direções quantas casas for conveniente. Ela é muito poderosa pelo seu raio de ação.
Torre – A torre movimenta-se no sentido horizontal ou vertical, quantas casas forem possíveis.
Cavalo – O cavalo possui um movimento particular bastante diferente das demais peças. Para simplificar digamos que o cavalo anda uma casa como a torre e uma casa como o bispo. O cavalo é a única peça que salta sobre as outras. Se o cavalo sair de uma casa branca ele irá parar numa casa preta e vice-versa.
Bispo - Os bispos percorrem as diagonais quantas casas for necessário Cada jogador começa a partida com um par de bispos, um que percorre casas pretas e outro pelas casas brancas.
Peão – Peça de valor teórico reduzido, mas de grande importância. Seu movimento é limitado e funciona, na maior parte das vezes, como um escudo para outras peças. O peão só anda para frente de casa em casa. Quando ainda na posição inicial, ele pode pular duas casas. Os peões não capturam as peças ao longo do seu movimento e sim na diagonal.
Ao se iniciar uma partida as peças do jogo têm uma posição definidas, e o primeiro lance corresponde às brancas, a seguir as pretas e assim sucessivamente. O objetivo do jogo é dar o mate no adversário. O jogador que consegue dar o xeque-mate é o vencedor da partida. Antes que este final aconteça várias batalhas antecedem com o deslocamento das peças.
3 METODOLOGIA
As atividades de intervenção pedagógica foram realizadas na Escola Monteiro Lobato com 20 escolares de 5ª e 6ª séries matriculados no Ensino Regular e Sala de Recursos (alunos já diagnosticados com TDAH).
Antecede a essa intervenção in lócus, estudos e atividades realizados de acordo como Plano de Desenvolvimento Educacional (PDE), proposto pelo Governo do Estado do Paraná.
As primeiras atividades (PDE) foram aulas presenciais, seminários, palestras, vários cursos e diálogos entre os professores do Ensino Superior e os da Educação Básica, com atividades teórico-práticas, orientadas, tendo como resultados a produção de conhecimento e mudanças qualitativas na prática escolar da escola pública paranaense. Este plano seguiram com 5 etapas distintas:
3.1 PLANO DE TRABALHO
O Plano de Trabalho da proponente deste artigo (Professora PDE), realizado em 2008 contempla o Projeto de Intervenção Pedagógica e a Implementação da Produção Didático-Pedagógica na Escola Estadual Monteiro Lobato. Neste processo buscou-se conhecer as necessidades educacionais especiais, procurando as alternativas pedagógicas que melhor pudessem atender às necessidades e anseios dos alunos com TDAH, professores e pedagogos desses educandos.
3.2 CADERNO PEDAGÓGICO
Para realização da intervenção pedagógica, respeitando as necessidades e dificuldades dos alunos com TDAH, foram realizados leituras, estudos e a produção didático-pedagógica, ou seja, um Caderno Pedagógico. Este material sugere atividades com o jogo de xadrez, como instrumento metodológico para auxiliar no desenvolvimento dos níveis de atenção desses alunos.
Neste sentido, utilizou-se estudos de vários autores, como por exemplo: Vygotski; Luria; Leontiev (2006); Piaget (1975) e Waloon (1981) os quais sugerem a utilização de jogos e de brincadeiras como metodologia de ensino e aprendizagem para contribuir no desenvolvimento da inteligência, da criatividade, da linguagem, da sociabilidade, da afetividade, da organização do pensamento e outros.
3.3 PROPOSTA DE IMPLEMENTAÇÃO NA ESCOLA
A Proposta foi apresentada, pela professora PDE, na Semana Pedagógica das escolas estaduais que acontece no início do ano letivo, que tem por objetivo a formação continuada dos Profissionais da Educação, onde Direção, Equipe Pedagógica, Professores, funcionários, pais e alunos discutem a organização da escola, a gestão escolar democrática, o projeto político-pedagógico e a avaliação escolar. Junto com a Professora da Sala de Recursos e a equipe pedagógica elaborou-se um calendário, para a implementação, que teve a duração de 4 meses, e que nela seria utilizado o Caderno Didático.
3.4 ASSESSORIA DOS ALUNOS DE TRABALHO EM REDE
Dentre as atividades previstas Plano de Carreira destaca-se a do Grupo de Trabalho em Rede – GTR, que possibilita a integração do Professor PDE com os Professores da Rede, por meio de encontros virtuais, para a discussão das temáticas de sua área de formação e/ou atuação.
3.5 TRABALHO FINAL: ARTIGO
Finalizou-se este programa de desenvolvimento com este artigo, após muitos estudos, pesquisas, intervenções, seminários, grupo de trabalho em rede, formação continuada dos professores. Finalizou-se este programa de desenvolvimento com este artigo, após muitos estudos, pesquisas, intervenções, seminários, grupo de trabalho em rede, formação continuada dos professores dentro da sua realidade escolar.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A motivação em estudar os alunos com TDAH, se deve ao índice de escolares que podem apresentar este transtorno. De acordo com Dupaul e Stoner; (2007) cerca de 3% a 7% da nossa população escolar pode manifestar esse distúrbio.
Diante dessa situação e como professora de Educação Física buscou-se na atividade com jogo, em especial o jogo de xadrez oportunizar o desenvolvimento das redes de atenção de uma forma lúdica e prazerosa.
O aluno diagnosticado com TDAH tem o direito de um ensino diferenciado e flexibilizado, com currículos adaptados e processos avaliativos diversificados, os quais atendam as necessidades educacionais especiais singulares do educando.
Observou-se que o aluno com TDAH consegue obter maior aproveitamento quando recebe apoio, incentivo e ajuda individual; compreensão e respeito ao seu tempo de aprendizagem e suas limitações. A firmeza e o comprometimento do professor são fundamentais, bem como a utilização de técnicas e recursos adequados, evitando a exposição do aluno à situações constrangedoras.
As atividades propostas pelo Caderno Pedagógico propiciaram resultados satisfatórios, pois vários professores inferiram que observaram melhora da concentração, no rendimento escolar e, principalmente, na auto-estima dos alunos (TDAH) que participaram da atividade com o jogo de xadrez
Um dos aspectos observados quando da realização da atividade refere-se a capacidade de prontidão que os alunos com TDAH demonstraram, pois participaram das atividades e estenderam-na quando as ensinavam aos seus colegas do Ensino Regular que não participaram da atividade.
Verificou-se que no momento que transmitiam o aprendizado do jogo de xadrez aos seus colegas, os alunos com TDAH demonstravam interesse e satisfação em saber algo adicional em relação aos companheiros de turma. Esse fato denota que houve elevação da estima, bem como, segurança na realização da atividade. Um dos fatores que interfere negativamente no aprendizado do aluno é a insegurança em sua
produção, esta atividade proporcionou descobrir e desenvolver os pontos fortes em cada aluno. Como professora de Educação Física desconhecia o trabalho realizado na Sala de Recursos. Por meio da intervenção pedagógica foi possível observar como é o cotidiano desse programa da Educação
Especial.
A professora desta turma realiza várias atividades, de forma individual e também coletiva, estabelecendo uma rotina clara, usando recursos visuais e auditivos. Adota-se atitudes positivas, como elogios para os comportamentos adequados (alunos com TDAH sempre tem sua atenção chamada para o que fazem de errado), enfatiza-se o que fazem de correto. Procura-se controlar pela proximidade, usar música para relaxar, usar proximidade física (mão no ombro, contato no olhar, toque na carteira), sempre com voz calma e firme.
São usadas técnicas que envolvem a escrita, a leitura, os contos de fada e os jogos. Os jogos, em geral, são utilizados como metodologia na Sala de Recursos. O jogo de xadrez desenvolvido com os alunos com TDAH contribuiu o tempo o todo para criação de jogadas, das mais simples às mais complexas, para se alcançar o objetivo proposto que são: capturar o adversário, proteger nossas próprias peças, atacar o Rei adversário, entre outras. Dessa forma, a prática do jogo parece potencializar o desenvolvimento de habilidades como: planejamento estratégico (atenção executiva), o manuseio das peças no tabuleiro (atenção seletiva) e a concentração no jogo (atenção sustentada).
Ainda desenvolve várias habilidades como atenção (indiscutível para qualquer aprendizagem, é fundamental durante o jogo, dentre outras coisas para que não cometam lances impossíveis), concentração, julgamento, planejamento, imaginação (é necessária para conseguir abstrair o sentido da representação gráfica expressa por uma determinada palavra), antecipação, memória (base de toda e qualquer aprendizagem e no xadrez é requisitada o tempo todo, desde o nível mais elementar de jogo até o mais avançado), vontade de vencer, paciência, autocontrole, espírito de decisão e coragem, lógica matemática, criatividade, inteligência e também é um excelente meio de recreação e de formação de caráter dos adolescentes dando a possibilidade desse aluno progredir segundo seu próprio ritmo (PINTO; CAVALCANTI, 2005), o que foi observado em várias situações, quando da realização das atividades com os alunos da Sala de Recursos.
A situação apresentada vem ao encontro da legislação, a qual sinaliza para um ensino diferenciado para os alunos que encontram obstáculos, tanto acadêmicos quanto de sociabilização.
Neste sentido, concorda-se com a professora participante do grupo do GTR 2008 quando esta comenta:
Sabemos que um dos maiores desafios sociais que a educação tem é a integração dos alunos com deficiências e/ou com problemas de aprendizagem e que não existe cura para esses problemas, essas dificuldades são para toda a vida. No entanto estas crianças podem progredir e aprender muito, superando muitas de suas limitações, quando há um suporte pedagógico adequado. Essa proposta com atividades de xadrez para alunos com TDAH apresenta uma sucessão de idéias e metodologias que darão subsídios para o trabalho do professor, enfatizando a aprendizagem com sucesso, do aluno como um todo, trazendo junto ao jogo do xadrez conhecimento em várias áreas, sendo que a atenção focada no jogo irá estimular o interesse pelo estudo (M. J. C.).
O jogo de xadrez, segundo estudos denomina-se um esporte pedagógico, a sua prática auxilia no desenvolvimento de todas as disciplinas curriculares, melhorando assim o seu rendimento escolar e consequentemente eleve sua auto-estima, visto que o TDAH não é apenas um problema comportamental.
Pode-se inferir que o jogo tem todos os elementos necessários à aprendizagem, pois ele desafia, desequilibra, descentraliza o pensamento e o comportamento. Estimula a reflexão, a criatividade, a cooperação e a reciprocidade. Jogando a criança vai organizando o mundo à sua volta, vivenciando experiências, emoções e sentimentos, descobrindo suas aptidões e possibilidades, construindo e inventando alternativas.
Aprender e praticar o jogo de xadrez potencializa o desenvolvimento de habilidades, como capacidade de antecipação, planejamento e elaboração de estratégias, proporcionando com isto uma melhora na sua capacidade de fixar sua atenção por um período mais longo e de vislumbrar um futuro.
Também pudemos contar com experiências trazidas pelo grupo de GTR, as quais foram riquíssimas, visto que vários desses professores já vivenciam algumas dificuldades em suas escolas estaduais e usam o xadrez para amenizar esses problemas.
Os participantes dos Grupos puderam estabelecer relações teórico-práticas em sua área de conhecimento, visando ao enriquecimento didático-pedagógico, por meio de leituras, reflexões e troca de idéias.
Este grupo de trabalho virtual nos trouxe muitas experiências, visto que quase todos os alunos atuam com esta ferramenta pedagógica (o Jogo de Xadrez) com seus alunos. Iniciou-se com 40 alunos (professores da rede pública), de todo o Estado do Paraná, altamente comprometidos com a Educação.
Este trabalho em rede contou com 6 Módulos, com diários e Fóruns, dando a possibilidade de muitos debates sobre o tema. Muitos professores demonstram sua angústia por este aluno, nota-se isto pelo relato de uma aluna/professora que cita:
Penso que se faz necessário o aprofundamento do tema pelos professores. O aluno com TDAH e outras dificuldades de aprendizagem, estão presentes nas salas de aula, muitas vezes fazendo parte de um grupo considerado indisciplinado - desatento. Na verdade a criança não quer ser assim ou ficar assim, ela pede incansavelmente por ajuda. Quando me refiro ao estudo é porque o professor após um diagnóstico deve conhecer, entender o caso para buscar aperfeiçoamento em sua prática, só saber não é suficiente. A fundamentação teórica deixa claro isso quando de acordo com Blanco 1995, especifica: Responder adequadamente a cada aluno, significa entender que cada escolar tem seu ritmo, seu estilo, seus interesses, seus limites e suas possibilidades (M. J. C.). Esta possibilidade de se poder dialogar com outros professores da rede Estadual é riquíssima e com certeza trás muitos conhecimentos tanto para os alunos quanto para os seus tutores.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Podemos inferir que o jogo tem todos os elementos necessários à aprendizagem, pois ele desafia, desequilibra, descentraliza o pensamento e o comportamento. Estimula a reflexão, a criatividade, a cooperação e a reciprocidade. Jogando a criança vai organizando o mundo à sua volta, vivenciando
experiências, emoções e sentimentos, descobrindo suas aptidões e possibilidades, construindo e inventando alternativas.
No decorrer da pesquisa foi possível observar que o aluno com TDAH quando da atividade com o xadrez desenvolveu várias habilidades, como por exemplo: iniciativa de decisão, raciocínio lógico e espacial, controle, memória, percepção, respeito às regras, resiliência, auto-estima e espírito de equipe (PINTO;CAVALCANTI,2005), além disso é um jogo prazeroso, que pode ser jogado a vida inteira e a cada lance, ou cada jogo é diferente. O trabalho desenvolvido na Implementação Pedagógica confirmou a concepção de que o Jogo de Xadrez, por suas peculiaridades consegue atingir até aquele aluno com maiores dificuldades, pois ele está sempre desafiando, motivando e deixando transpor barreiras.
Durante a execução das etapas que se seguiram foram visíveis, quanto ao aprofundamento tema e o sucesso que o jogo fez com todos os educandos por ser algo dinâmico e diferenciado. Verificouse ainda que os alunos diagnosticados com este transtorno conseguiram melhorar sua atenção sustentada, bem como elevar sua alto estima e assim se sociabilizarem.
Espera-se que esta metodologia de trabalho seja implementada por professores que acreditam na Educação, e estão em constante movimento na busca de construção e aperfeiçoamento.
A professora da Sala de Recursos bem como, as das diversas disciplinas, comentaram que esses alunos estão conseguindo melhores resultados em sala de aula fazendo com que isso eleve consideravelmente sua auto-estima.
Ressalta-se que vários alunos demonstram interesse em continuar praticando o jogo e alguns já participam de competições internas, obtendo grande sucesso.
É imprescindível a compreensão, o estudo, a intervenção do educador sobre os fatores que interferem na aprendizagem do aluno, refletindo constantemente as questões internas (cognitiva, psicomotora e afetiva) e externas (escola, família, sociedade) que atingem e conseguem modificar o processo de construção do conhecimento, a permanência e a exclusão do ambiente escolar. É necessário envolver-se pessoalmente nos desafios, sensibilizar-se, mobilizar-se, ousar acreditar que a escola pode se renovar a cada dia e que o conhecimento pode romper com preconceitos e rótulos associados aos alunos hiperativos, garantindo a eles o desenvolvimento de suas potencialidades. Esta pesquisa é apenas o começo do novelo que o problema do TDAH apresenta hoje nas escolas.
Há muito ainda por desenrolar, pesquisar e estudar sobre o assunto na busca de melhores alternativas. Há muitas barreiras a serem transpostas.
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