quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O Fim dos Maluquinhos - Uma reflexão




O Menino Maluquinho é um personagem que trabalha muito com o afeto. Se você for ...analisar bem, é a única coisa importante na vida. Quando você fica velho, você descobre que nada é mais importante que o afeto, gostar e precisar do próximo e admitir que precise do amor dele.
Ziraldo

Uma geração de jovens dependentes químicos está em formação nesse momento, patrocinada com sucesso por produtos de uma indústria farmacêutica cada vez mais "criativa" e comercial.

A droga da vez é a Ritalina, nome simpático até demais, levando em consideração sua origem, uma tal de Anfetamina.

Criada em 1887 na Alemanha, a Anfetamina foi utilizada em larga escala pelos soldados alemães na Segunda Guerra Mundial. Hitler ordenava que seus comandados tomassem a droga diariamente, ele sabia que a pílula sintética estimulava as capacidades físicas e psíquicas de seus asseclas, eliminando a fadiga no front e por tabela economizaria na dieta alimentar dos soldados: um dos seus efeitos é a falta de apetite.

Décadas depois, já nos anos 70, a Anfetamina era o combustível da geração "Flower & Power" , dos hippies e de toda a turma do Rock, que não podiam deixar de "dar suas viajadas extra sensoriais ". A venda sem prescrição médica já estava proibida nos principais países do mundo, mas a Anfetamina era a droga símbolo da juventude setentista, que com seus excessos ajudaram a demonizar de vez o uso de drogas.

Como tudo é reciclável na indústria do consumo (incluindo a farmacêutica), da Anfetamina cria-se a Ritalina, já com a fama de salvadora para os pais (quem diria!) e mestres que não conseguem conviver com suas “crianças elétricas e maluquinhas”.

Outros nomes para a Anfetamina:
• Metilfenidato ou Ritalina
• Dietilpropiona ou Dualid S
• Mazindol ou Dobesix
• Fenpoporex ou Desobesi

Se refletirmos sobre as "ondas de soluções práticas" que tempos em tempos são vendidas como a "única saída", é possível afirmar que a falência da formação do individuo começa dentro de casa, ainda na infância; pela incapacidade dos pais de dedicarem tempo a seus filhos na sociedade pós-moderna em que vivemos.

Um número crescente de casos de crianças “hiperativas” ou com o famigerado “déficit de atenção” brotam a todo instante. Distúrbios existem e remédios são bem vindos, mas não parece óbvio que exageros estão sendo cometidos? Com uma enxurrada de propagandistas visitando diariamente os consultórios médicos, fica difícil imaginar que a industria farmacêutica não tem sua parcela de responsabilidade.Afinal, o produto tem que ser vendido.

Não raro ouço que fulano levou o filho ao médico, pois o menino está muito “agitado e desatento na escola”; médico receitou Ritalina sem pestanejar. Simples assim. Os pais não poderiam buscar uma segunda opinião antes de comprar o remédio?

Os pais abominam a palavra "DROGA" no ambiente familiar, mas não se informam o suficiente, preferem uma solução rápida e prática. Não deixa de ser uma fuga da realidade, e para isso “nada melhor” que uma droga para acompanhar.

A droga dos nazistas e da transgressão dos hippies, agora é a da “obediência recreativa”, acalmando pais e filhos.

É o fim dos nossos “maluquinhos”.

Fonte: site da UNIFESP - Escola Paulista de Medicina- Silvio Crisostomo

sábado, 19 de fevereiro de 2011

1959 X 2010





Cenário
1: João não fica quieto na sala de aula. Interrompe e perturba os colegas.


Ano 1959: É mandado à sala da diretoria, fica parado esperando 1 hora, vem o diretor, lhe dá uma bronca descomunal e volta tranquilo à classe.

Ano 2010: É mandado ao departamento de psiquiatria, o diagnosticam como hiperativo, com trastornos de ansiedade e déficit de atenção em ADD, o psiquiatra lhe receita Rivotril. Se transforma num Zumbí. Os pais reivindicam uma subvenção por ter um filho incapaz.

Cenário 2: Luis quebra o farol de um carro no seu bairro.


Ano 1959: Seu pai tira a cinta e lhe aplica umas sonoras bordoadas no trazeiro... A Luis nem lhe passa pela cabeça fazer outra nova "cagada", cresce normalmente, vai à universidade e se transforma num profissional de sucesso.

Ano 2010: Prendem o pai de Luis por maus tratos. O condenam a 5 anos de reclusão e, por 15 anos deve absterse de ver seu filho. Sem o guia de uma figura paterna, Luis se volta para a droga, delinque e fica preso num presídio especial para adolescentes.

Cenário 3: José cai enquanto corria no patio do colégio, machuca o joelho. Sua professora Maria, o encontra chorando e o abraça para confortá-lo...


Ano 1959: Rapidamente, João se sente melhor e continua brincando.

Ano 2010: A professora Maria é acusada de abuso sexual, condenada a três anos de reclusão. José passa cinco anos de terapia em terapia. Seus pais
processam o colégio por negligência e a professora por danos psicológicos, ganhando os dois juizos. Maria renuncia à docência, entra em aguda depressão e se suicida...

Cenário 4: Disciplina escolar

Ano 1959: Fazíamos bagunça na classe... O professor nos dava umas boa "mijada" e/ou encaminhava para a direção; chegando em casa, nosso velho nos castigava sem piedade.

Ano 2010: Fazemos bagunça na classe. O professor nos pede desculpas por repreendernos e fica com a culpa por faze-lo . Nosso velho vai até

o colégio se queixar do docente e para consolá-lo compra uma moto para o filhinho.

Cenário 5: Horário de Verão.

Ano 1959:Chega o dia de mudança de horário de inverno para horário de verão. Não acontece nada.

Ano 2010: Chega o dia de mudança de horário de inverno para horário de verão. A gente sofre transtornos de sono, depressão, falta de apetite, nas mulheres aparece celulite.

Cenario 6: Fim das férias.

Ano 1959: Depois de passar férias com toda a família enfiada num Gordini, após 15 dias de sol na praia, hora de voltar. No dia seguinte se trabalha e tudo bem.

Ano 2010: Depois de voltar de Cancún, numa viajem 'all inclusive', terminam as férias e a gente sofre da síndrome do abandono, pánico, attack e seborréia...

Vale uma bela reflexão...

EM QUE PARTE DO CAMINHO NOS PERDEMOS?

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

APROVAÇÃO FACILITADA



Escolas estaduais acabarão com repetência até o terceiro ano

Secretário Jose Clovis de Azevedo recomendará que colégios não reprovem nas etapas iniciais do Ensino Fundamental

Homologada pelo Ministério da Educação no fim do ano passado, a recomendação do Conselho Nacional de Educação (CNE) de acabar com a reprovação nos três primeiros anos do Ensino Fundamental será adotada na rede estadual de ensino a partir deste ano letivo. Segundo o secretário estadual de Educação, Jose Clovis de Azevedo, as direções das escolas deverão ser orientadas a mudar gradativamente para o novo sistema, que cria o ciclo de Alfabetização e Letramento e elimina as séries iniciais.

– Não trabalhamos com decretos. Vamos abrir um processo de discussão em todas as coordenadorias. Mas esse é o caminho para que a escola não antecipe a exclusão pelo processo de repetência. Quem tem vivência em escola pública sabe que o investimento nas crianças por mais tempo permite que ela siga em frente. Reprovar no início afasta o aluno – diz o secretário.

Nas redes municipais, o novo método também deverá ser adotado, mas demorará mais. De acordo com assessora técnica do setor de educação da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), Salete Cadore, os conselhos de ensino de cada cidade deverão se debruçar sobre o tema e escolher o caminho.

– A alfabetização pode ser complementada no segundo ano, sem problemas. Admitir os três anos é uma novidade grande demais. Os municípios vão precisar de mais tempo até a adoção – aposta Salete.

Entre os especialistas, a recomendação do CNE chancelada pelo ministro Fernando Haddad é pura polêmica. A ex-secretária de Educação de Porto Alegre na gestão Olívio Dutra (1989-1992) e presidente do Grupo de Estudos sobre Educação, Metodologia de Pesquisa e Ação (Geempa), Esther Grossi, é contra e diz que o sistema irá criar uma legião de analfabetos.

– Essa mudança não ajuda a superar o desafio primeiro da escola. Eles estão, sim, empurrando muitos brasileiros ao analfabetismo, perpetuando esta lacuna inaceitável, que é a não alfabetização de tantos milhões, os quais sairão cegos para nossa língua escrita. Esse sistema só adia a reprovação que virá nos anos seguintes – diz Esther.

GUSTAVO AZEVEDO ( Jornal Zero Hora)

E agora???


sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O nó do afeto





Em uma reunião de pais, numa escola da periferia, a diretora incentivava o apoio que os pais devem dar aos filhos. Pedia-lhes, também, que se fizessem presentes o máximo de tempo possível.
Ela entendia que, embora a maioria dos pais e mães daquela comunidade trabalhassem fora, deveriam achar um tempinho para se dedicar e entender as crianças.Mas a diretora ficou muito surpresa quando um pai se levantou e explicou, com seu jeito humilde, que ele não tinha tempo de falar com o filho, nem de vê-lo,durante a semana.
Quando ele saía para trabalhar, era muito cedo e o filho ainda estava dormindo.
Quando voltava do serviço era muito tarde e o garoto não estava mais acordado.
Explicou, ainda, que tinha de trabalhar assim para prover o sustento da família.
Mas ele contou, também, que isso o deixava angustiado por não ter tempo para o filho e que tentava se redimir indo beijá-lo todas as noites quando chegava em casa.
E, para que o filho soubesse da sua presença, ele dava um nó na ponta do lençol que o cobria.
Isso acontecia, religiosamente, todas as noites quando ia beijá-lo. Quando o filho acordava e via o nó, sabia, através dele, que o pai tinha estado ali e o havia beijado.
O nó era o meio de comunicação entre eles.
A diretora ficou emocionada com aquela história singela e emocionante.
E ficou surpresa quando constatou que o filho desse pai era um dos melhores alunos da escola.
O fato nos faz refletir sobre as muitas maneiras de um pai ou uma mãe se fazer presente, de se comunicar com o filho. Aquele pai encontrou a sua, simples mas eficiente.
E o mais importante é que o filho percebia, através do nó afetivo, o que o pai estava lhe dizendo.
Por vezes nos importamos tanto com a forma de dizer as coisas e esquecemos do principal, que é a comunicação através do sentimento.
Simples gestos como um beijo e um nó na ponta do lençol, valiam, para aquele filho, muito mais que presentes ou desculpas vazias.
É válido que nos preocupemos com os nossos filhos, mas é importante que eles saibam, que eles sintam isso.
Para que haja a comunicação é preciso que os filhos "ouçam" a linguagem do nosso coração, pois em matéria de afeto os sentimentos sempre falam mais alto que as palavras.
É por essa razão que um beijo, revestido do mais puro afeto, cura a dor de cabeça, o arranhão no joelho, o ciúme do bebê que roubou o colo, o medo de escuro.
A criança pode não entender o significado de muitas palavras, mas sabe registrar um gesto de amor.
Mesmo que esse gesto seja apenas um nó. Um nó cheio de afeto e carinho.

E você? Já deu algum nó afetivo no lençol do seu filho hoje?

sábado, 5 de fevereiro de 2011

BIG BROTHER BRASIL



Que me perdoem os ávidos telespectadores do Big Brother Brasil (BBB), produzido e organizado pela nossa distinta Rede Globo, mas conseguimos chegar ao fundo do poço...A décima primeira (está indo longe!) edição do BBB é uma síntese do que há de pior na TV brasileira. Chega a ser difícil,... encontrar as palavras adequadas para qualificar tamanho atentado à nossa modesta inteligência.

Dizem que em Roma, um dos maiores impérios que o mundo conheceu, teve seu fim marcado pela depravação dos valores morais do seu povo, principalmente pela banalização do sexo. O BBB é a pura e suprema banalização do sexo. Impossível assistir, ver este programa ao lado dos filhos. Gays, lésbicas, heteros... todos, na mesma casa, a casa dos “heróis”, como são chamados por Pedro Bial. Não tenho nada contra gays, acho que cada um faz da vida o que quer, mas sou contra safadeza ao vivo na TV, seja entre homossexuais ou heterosexuais. O BBB é a realidade em busca do IBOPE...

Veja como Pedro Bial tratou os participantes do BBB. Ele prometeu um “zoológico humano divertido” . Não sei se será divertido, mas parece bem variado na sua mistura de clichês e figuras típicas.

Pergunto-me, por exemplo, como um jornalista, documentarista e escritor como Pedro Bial que, faça-se justiça, cobriu a Queda do Muro de Berlim, se submete a ser apresentador de um programa desse nível. Em um e-mail que recebi há pouco tempo, Bial escreve maravilhosamente bem sobre a perda do humorista Bussunda referindo-se à pena de se morrer tão cedo.

Eu gostaria de perguntar, se ele não pensa que esse programa é a morte da cultura, de valores e princípios, da moral, da ética e da dignidade.

Outro dia, durante o intervalo de uma programação da Globo, um outro repórter acéfalo do BBB disse que, para ganhar o prêmio de um milhão e meio de reais, um Big Brother tem um caminho árduo pela frente, chamando-os de heróis. Caminho árduo? Heróis?

São esses nossos exemplos de heróis?

Caminho árduo para mim é aquele percorrido por milhões de brasileiros: profissionais da saúde, professores da rede pública (aliás, todos os professores), carteiros, lixeiros e tantos outros trabalhadores incansáveis que, diariamente, passam horas exercendo suas funções com dedicação, competência e amor, quase sempre mal remunerados..

Heróis, são milhares de brasileiros que sequer têm um prato de comida por dia e um colchão decente para dormir e conseguem sobreviver a isso, todo santo dia.

Heróis, são crianças e adultos que lutam contra doenças complicadíssimas porque não tiveram chance de ter uma vida mais saudável e digna.

Heróis, são aqueles que, apesar de ganharem um salário mínimo, pagam suas contas, restando apenas dezesseis reais para alimentação, como mostrado em outra reportagem apresentada, meses atrás pela própria Rede Globo.

O Big Brother Brasil não é um programa cultural, nem educativo, não acrescenta informações e conhecimentos intelectuais aos telespectadores, nem aos participantes, e não há qualquer outro estímulo como, por exemplo, o incentivo ao esporte, à música, à criatividade ou ao ensino de conceitos como valor, ética, trabalho e moral.

E ai vem algum psicólogo de vanguarda e me diz que o BBB ajuda a "entender o comportamento humano". Ah, tenha dó!!!

Veja o que está por de tra$$$$$$$$$$$$$$$$ do BBB: José Neumani da Rádio Jovem Pan, fez um cálculo de que se vinte e nove milhões de pessoas ligarem a cada paredão, com o custo da ligação a trinta centavos, a Rede Globo e a Telefônica arrecadam oito milhões e setecentos mil reais. Eu vou repetir: oito milhões e setecentos mil reais a cada paredão.

Já imaginaram quanto poderia ser feito com essa quantia se fosse dedicada a programas de inclusão social: moradia, alimentação, ensino e saúde de muitos brasileiros?

(Poderiam ser feitas mais de 520 casas populares; ou comprar mais de 5.000 computadores!)

Essas palavras não são de revolta ou protesto, mas de vergonha e indignação, por ver tamanha aberração ter milhões de telespectadores.

Em vez de assistir ao BBB, que tal ler um livro, um poema de Mário Quintana ou de Neruda ou qualquer outra coisa..., ler a Bíblia, orar, meditar, passear com os filhos, ir ao cinema..., estudar... , ouvir boa música..., cuidar das flores e jardins... , telefonar para um amigo... , visitar os avós... , pescar..., brincar com as crianças... , namorar... ou simplesmente dormir.

(Luiz Fernando Veríssimo)