domingo, 18 de julho de 2010

“Filho criado, trabalho redobrado.”




“Filho criado, trabalho redobrado.” Esse conhecido ditado popular ganha sentido quando chega a adolescência. Nessa fase, o filho já não precisa dos cuidados que os pais dedicam à criança, tão dependente. Mas, por outro lado, o que ele ganha de liberdade para viver a própria vida resulta em diversas e sérias preocupações aos pais. Temos a tendência a considerar a adolescência mais problemática para os pais do que para os filhos. É que, como eles já gozam de liberdade para sair, festejar e comemorar sempre que possível com colegas e amigos de mesma idade e estão sempre prontos a isso, parece que a vida deles é uma eterna festa. Mas vamos com calma porque não é bem assim.
Se a vida com os filhos adolescentes, que alguns teimam em considerar um fato aborrecedor, é complexa e delicada, a vida deles também o é. Na verdade, o fenômeno da adolescência, principalmente no mundo contemporâneo, é bem mais complicado de ser vivido pelos próprios jovens do que por seus pais. Vejamos dois motivos importantes.
Em primeiro lugar, deixar de ser criança é se defrontar com inúmeros problemas da vida que, antes, pareciam não existir: eles permaneciam camuflados ou ignorados porque eram da responsabilidade só dos pais. Hoje, esse quadro é mais agudo ainda, já que muitos pais escolheram tutelar integralmente a vida dos filhos por muito mais tempo.
Quando o filho, ainda na infância, enfrenta dissabores na convivência com colegas ou pena para construir relações na escola, quando se afasta das dificuldades que surgem na vida escolar -sua primeira e exclusiva responsabilidade-, quando se envolve em conflitos, comete erros, não dá conta do recado etc., os pais logo se colocam em cena. Dessa forma, poupam o filho de enfrentar seus problemas no presente, é claro, mas também passam a idéia de que eles não existem por muito mais tempo.
É bom lembrar que a escola -no ciclo fundamental- deveria ser a primeira grande batalha da vida que o filho teria de enfrentar sozinho, apenas com seus recursos, como experiência de aprender a se conhecer, a viver em comunidade e a usar seu potencial com disciplina para dar conta de dar os passos com suas próprias pernas.
Em segundo lugar, o contexto sociocultural globalizado atual, com ideais como consumo, felicidade e juventude eterna, por exemplo, compromete de largada o processo de amadurecimento típico da adolescência, que exige certa dose de solidão para a estruturação de tantas vivências e, principalmente, interlocução. E com quem os adolescentes contam para conversar?
Eles precisam, nessa época de passagem para a vida adulta, de pessoas dispostas a assumir o lugar da maturidade e da experiência com olhar crítico sobre as questões existenciais e da vida em sociedade para estabelecer com eles um diálogo interrogador. Várias pesquisas já mostraram que os jovens dão grande valor aos pais e aos professores em suas vidas. Entretanto, parece que estamos muito mais comprometidos com a juventude do que eles mesmos.
Quem leva a sério questões importantes para eles em temas como política, sexualidade, drogas, ética, depressão e suicídio, vida em família, vida escolar, violência, relações amorosas e fidelidade, racismo, trabalho etc.? Quando digo levar a sério me refiro a considerar o que eles dizem e dialogar com propriedade, e não com moralismo ou com excesso de jovialidade. E, desse mal, padecem muitos pais e professores que com eles convivem.
Os adolescentes não conseguem desfrutar da solidão necessária nessa época da vida, mas parece que se encontram sozinhos na aventura de aprender a se tornarem adultos. Bem que merecem nossa companhia, não?”

Rosely Sayão

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Brincadeira TEM limite...Diga NÃO ao BULLYING!


Colocar apelidos, discriminar, perseguir, excluir, agredir, roubar material: atitudes como essas, praticadas por crianças e adolescentes, têm um forte impacto na vida dos seus colegas. Ninguém parece escapar de provocações de mau gosto no corredor ou na sala de aula, mas quando esse comportamento se torna recorrente, pode ser caracterizado como bullying ou, em português, violência ou assédio moral infantil. Nesses casos, a brincadeira não tem a mínima graça.

Uma criança que sofre desse tipo de assédio pode apresentar desde queda no rendimento escolar ao suicídio, em casos extremos.(...)

Sinais como chorar e não querer ir à escola podem ajudar pais a perceberem que o filho está sendo vítima do bullying. Foi o que aconteceu com a filha de Claudinei Antônio dos Santos, funcionário da Prefeitura da Esalq. "Ela reclamava e só ia para escola chorando. Um dia chegou chorando em casa e só depois contou que as coleguinhas falavam que ela era feinha e magricela, puxavam seu cabelo, pegavam o material e jogavam fora."

O funcionário acredita que a menina, que tinha 9 anos na época e estava na 3ª. série, devia estar sofrendo ataques das colegas por muito tempo, mas não comentava nada com ninguém. "Ela é muito quieta, não reage, é passiva", conta. Quando finalmente entenderam seu drama, Claudinei e a esposa foram falar com a coordenadora da classe da filha, que disse não saber que a violência moral estava acontecendo.
Segundo a Abrapia ( Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência ), os autores do bullying procuram pessoas que tenham alguma característica que sirva de foco para suas agressões. Por isso a abordagem de quem se diferencie do grupo por apresentar obesidade, baixa estatura ou deficiência física. Já na opinião de Marieta, a aparência não é o fator determinante: "uma 'gordinha' pode ser bem ajustada e uma 'loirinha', não".

No entanto, ela destaca a importância de ajudar meninos e meninas a encarar a diversidade sem preconceito, e defende que a troca aberta de pontos de vista e o debate de idéias são essenciais para que as "crianças aceitem coisas que de início não eram delas".
O bullying entre adolescentes ganha traços peculiares na opinião da professora Marieta. "Nessa fase a auto-suficiência é maior, o jovem pode encontrar o ponto fraco do outro com mais facilidade", ressalta.
A funcionária Paula (nome fictício) chegou a trocar a filha de 13 anos de escola. Como tinha o costume de dançar músicas de axé no recreio, a garota levou a fama de "exibicionista" e alguns meninos se sentiram livres para avançar o sinal. "Eles ficavam provocando e mexendo com ela. Uma vez um deles tentou 'passar a mão', conta a mãe, que diz que a filha, por sua vez, garantia que dançava por brincadeira.
Para Marieta, esses problemas precisam ser encarados o mais cedo possível, para evitar que o adolescente leve para a vida adulta a carga dos conflitos não resolvidos. "A auto-imagem negativa tem influência futura nos estudos, trabalho e relações amorosas", prevê ela, que reforça a importância do diálogo sincero como melhor remédio contra a propagação do bullying.

Julia Tavares




Sugestão de leitura: Garota fora do jogo de Raquel Simmons

A cultura oculta da agressão nas meninas foi tema de profundo estudo da autora e cientista política norte-americana. Para ela, geralmente os meninos são o centro das atenções quando se fala no bullying, só que as garotas, apesar de não deixarem rastros de violência, apresentam em seu comportamento um tipo de agressividade indireta e dissimulada. Elas preferem usar a manipulação, a exclusão e a fofoca para causar sofrimento às suas vítimas. O problema é que essas atitudes podem passar despercebidas mesmo aos olhos mais atentos de pais e educadores.
Rachel atualmente é treinadora nacional numa fundação que combate a violência nas escolas americanas. Seu livro ficou várias semanas na lista dos mais vendidos do The New York Times.