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terça-feira, 10 de novembro de 2015

4 atitudes que enfraquecem o vínculo emocional com seus filhos


Ser pai, mãe, avô, avó e, além disso, um educador eficaz, não é fácil. Cada criança vem a este mundo com necessidades próprias que devemos saber atender, com virtudes a serem potencializadas e emoções que devem ser incentivadas, orientadas e desenvolvidas.
Educar não é apenas ensinar as crianças a ler ou mostrar como podem realizar seu trabalho de pesquisa para o colégio com o computador. Ser pai ou mãe não é presentear os filhos com um telefone celular em seu aniversário, nem assegurar-nos de que colocamos o cinto de segurança neles cada vez que entram no carro. É muito mais que tudo isso.
Educar também é saber dizer “Não” e, ao mesmo tempo, dizer “Sim” com o olhar, porque educar não é apenas proibir, mas abrir o coração para os nossos filhos e reforçar cada dia o vínculo emocional que temos com eles, dando a entender que estamos juntos em cada instante para proporcionar-lhes maturidade como pessoas felizes e capazes.
Contudo, em algumas situações, mesmo que conheçamos a teoria não a aplicamos na prática. Além de pais e mães, também somos casal, empregados, empresários ou pessoas que querem trocar de emprego e que, possivelmente, ainda querem atingir novos objetivos profissionais. Tudo isso ocorre concomitantemente em nosso cotidiano e, sem saber como, começamos a cometer erros na educação de nossos filhos.
Se você for pai, se lembrará de quando foi filho e saberá, sem dúvida, o que você mais valorizou – e ainda valoriza! – ou do que mais sentiu falta nos seus dias de infância. Se a sua infância não foi especialmente feliz, entenderá quais aspectos romperam este vínculo emocional com os seus pais, esses erros que não devem ser repetidos sob nenhuma hipótese com seus filhos.
Falemos sobre isso.

1. Não os escutar

As crianças falam e também perguntam muito. Pegam você de surpresa com mil questionamentos, inúmeras dúvidas e centenas de comentários nos momentos mais inoportunos. Desejam saber, experimentarquerem compartilhar e desejam compreender tudo que acontece diante delas.
enfraquecer o vínculo emocional
Tenha bastante claro que, se você mandar que fiquem quietas, se você as obrigar a ficar em silêncio, ou se não atender suas palavras, respondendo com severidade ou de forma rude, isso fará com que, no curto prazo, a criança deixe de se dirigir a você. E o fará privilegiando seus próprios espaços de solidão, atrás de uma porta fechada que não desejará que você cruze.

2. Castigá-los, transmitindo-lhes falta de confiança

São muitos os pais que relacionam a palavra educação com punição, com proibição, com um autoritarismo firme e rígido em que tudo se impõe e qualquer erro é castigado. Este tipo de conduta educativa resulta em uma falta de autoestima muito clara na criança, uma insegurança e, ao mesmo tempo, uma ruptura do vínculo emocional com eles.
Se castigamos não ensinamos. Se me limito a dizer para a criança tudo o que ela faz de errado, jamais saberá como fazer algo bem. Não dou a ela medidas ou estratégias, limito-me a humilhá-la. E tudo isso gerará nela raiva, rancor e insegurança. Evite sempre esta atitude. 

3. Compará-los e rotulá-los

Poucas coisas podem ser mais destrutivas do que comparar um irmão ao outro ou uma criança a outra para ridicularizá-la, para dar a entender suas escassas aptidões, suas falhas, sua pouca iniciativa. En algumas ocasiões, um erro que muitos pais cometem éfalar em voz alta diante das crianças como se elas não os escutassem.
É que o meu filho não é tão inteligente como o seu, é mais lento, o que se pode fazer”.Expressões como estas são dolorosas e geram neles um sentimento negativo que causará não apenas ódio em relação aos pais, mas um sentimento interior deinferioridade.

4. Gritar com eles e apoiar-se mais nas ordens do que nos argumentos

Não trataremos aqui de maus tratos físicos, pois acreditamos que não há pior forma de romper o vínculo emocional com uma criança do que cometer este ato imperdoável.
Mas temos de ser conscientes de que existem outros tipos de maus tratos implícitos, quase igualmente destrutivos. É o caso do abuso psicológico, esse no qual se arruína a personalidade da criança por completo, sua autoimagem e a confiança em si mesma.
enfraquecer o vínculo emocional
Há pais e mães que não sabem dirigir-se de outra forma a seus filhos, sendo sempre através de gritos. Levantar a voz sem razão justificável provoca um estado de euforia e estresse contínuo nos filhos; eles não sabem em que se apoiar, não sabem se fizeram algo bom ou mau. Os gritos contínuos enfurecem e fazem mal, já que não há diálogos, apenas ordens e críticas.
Deve-se ter muito cuidado com estes aspectos básicos. O não escutar, o não falar e o não demonstrar abertura, compreensão ou sobrepor a sanção ao diálogo são modos de ir afastando aos poucos as crianças do nosso lado. Elas nos enxergarão como inimigos dos quais devem se defender e romperemos o vínculo emocional com eles.
Educar é uma aventura que dura a vida toda em que ninguém é um verdadeiro especialista. Contudo, basta apoiar-se nos pilares da compreensão, do carinho e em um apego saudável que proporcione a maturidade e a segurança nesta pessoa que é também parte de você.
Imagem cortesia: Gabriela Silva, Nicolás Gouny, Whimsical
Fonte: A mente é maravilhosa 

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Pais que mimam filhos estão criando geração de adultos deslocados e incapazes de lidar com frustração

Marcella Franco, do R7
Pais acabam soltando respostas impensadas e podem prejudicar filhosThinkstock
À mesa do restaurante, João faz manha exigindo o celular da mãe para se divertir durante o almoço. Maria se joga no chão da loja de brinquedos porque quer que o pai compre aquela boneca agora. E, sentado no sofá de casa, Pedro se irrita com os pais porque quer uma resposta urgente sobre poder ou não ir à festa dos amigos no sábado à noite. Todos eles, não importa a idade, têm algo em comum: vão se tornar adultos mimados, incapazes de lidar com as frustrações do mundo.

A culpa do destino dos três, João, Maria e Pedro, é do imediatismo que rege as relações atualmente. Temos, como pais, dito muitos “sim” para os filhos, quando, na verdade, o ideal seria dizer mais “não sei” ou “vou pensar”. Como explica a psicóloga e educadora Rosely Sayão, essa atitude traz como maior prejuízo uma alienação em relação à realidade.

— O adulto que tem o imediatismo cultivado, ao invés de controlado, tem dificuldade de compreender e se inserir no mundo.

Pressionados a responder às demandas dos filhos imediatamente, os pais acabam soltando respostas impensadas, e a consequência, na visão da coach de vida e carreira Ana Raia, é a criação de jovens pouco preparados para lidar com a vida.
Segundo ela, os pais, atualmente, não aguentam não ser imediatistas. Se no passado eles se permitiam deixar os filhos insatisfeitos por mais tempo, hoje atitudes como essa se transformaram em um dos maiores desafios na educação das crianças e jovens.

Ana acredita que a tecnologia colabore para o imediatismo a partir do momento em que, ao toque de um dedo na tela do celular, a resposta para qualquer pergunta ou busca de informação podem ser obtidas em pouquíssimos segundos.

— Não conseguimos sustentar uma dúvida por muito tempo, um incômodo. Não sabemos lidar com um mal-estar neste mundo onde a felicidade é imperativa.

E a dúvida, explica Rosely Sayão, é preciosa, assim como a espera e o pensamento, porque eles ajudam a criança a crescer e a amadurecer. Crianças que não têm momentos de “mente vazia”, por exemplo, poderão sofrer graves consequências na vida adulta.

Alguém que está sempre entretido terá para sempre a necessidade de entretenimento constante, alerta o médico Daniel Becker, criador do projeto Pediatria Integral. Segundo ele, para ser criativo, o cérebro humano precisa da criatividade.

— São necessários momentos em que ele está engajado com algo externo, e também momentos em que está ocioso, em estado de contemplação. Quando uma criança tem seu tempo completamente tomado com atividades como escola, inglês, natação, Facebook, Instagram, WhatsApp, ela fica incapacitada de ter importantes processos interiores.

Becker acrescenta que crianças que não interagem com seus pares ou com os adultos, porque passam o dia com eletrônicos na mão, terão menos inteligência emocional, menos empatia e menos capacidade de se comunicar com os outros quando crescerem.

Se este já não fosse um bom argumento, ainda haveria a opinião de outros especialistas, que enxergam o hábito dos pais de entregar celulares e tablets às crianças como algo benéfico apenas para os adultos.

Na opinião de Rosely Sayão, oferecer um eletrônico em momentos em que se espera que os filhos se socializem com a família e amigos não é um carinho, mas, sim, um comodismo.

— O celular e o tablet nestas situações têm a função do “cala a boca”, nada além disso.

Mas, então, o que fazer quando a conversa no restaurante está boa, mas os pequenos não param de dar chilique e pedir para ir embora? O pediatra Daniel Becker dá uma boa dica.

— As pessoas se esquecem que as crianças sabem conversar e que podem fazer pequenos contratos. Mesmo as menorzinhas têm essa capacidade de compreensão. Basta dizer ao filho que, nos momentos em que estiverem conversando em família, ele não terá o tablet, mas que, quando a mamãe e o papai estiverem falando só com seus amigos, ele poderá pegar o tablet emprestado por 15 minutos. Assim, se alcança um equilíbrio.

Soluções como esta são recursos para que os pais lidem não só com o imediatismo das crianças, como também o deles próprios, que pode, mesmo que de maneira não intencional, servir como exemplo negativo aos filhos, que acabam copiando as atitudes da família.

Para o pediatra presidente do Congresso Brasileiro de Urgências e Emergências Pediátricas, Hany Simon, a ansiedade e a angústia na adolescência e na vida adulta podem ser resultados do imediatismo paterno presenciado na infância. E, como reforça Rosely Sayão, viver de maneira urgente só traz impactos emocionais negativos nas crianças.

— Somos imediatistas desde que nascemos. Choramos para manifestar desconforto, somos atendidos e temos nossas necessidades básicas saciadas. Com isso, vem também uma sensação de prazer, que vamos desejar para sempre. No entanto, precisamos entender que não é o princípio do prazer que vai reger a nossa vida, e, sim, o princípio da realidade. O papel dos pais é, aos poucos, mostrar aos filhos a realidade do mundo. 

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Ensinem seus filhos...





Ensinem suas filhas e filhos a pegar ônibus logo cedo, primeiro com vocês, depois sozinhos. Eles vão precisar disso um dia na adolescência ou na vida adulta e mesmo que você seja muito rico e pense que não precisarão, não há como ter certeza. Se nunca andaram, terão tendência a ficarem abobalhados, pouco espertos e mais propensos a sofrerem assaltos ou atropelamentos.
Ensinem seus filhos e filhas a andar a pé, porque só se aprende a atravessar ruas andando a pé. Bicicleta só para recreação, com você carregando o malinha e sua mala rampa acima, não vai dar boa coisa. Molequinhos e molequinhas precisam saber ir e voltar. Carregarem seus casaquinhos, bonequinhas e carrinhos faz parte da missão: mãe e pai não são cabides.
Ensinem suas filhas e filhos desde bebês a descascar bananas, maiorezinhos devem saber comer maçã sem ser picada, devem aprender a espremer um suco no muque, usar garfo e faca, colocar a roupa suja no cesto, lavar, secar e guardar louça. Assim não serão os malas na casa da tia no dia do pijama. No mínimo.
Ensinem seus filhos e filhas adolescentes a lavar o próprio par de tênis, lavar, pendurar, recolher e dobrar roupas, cozinhar algo básico, trocar lâmpadas e resistência do chuveiro. Ensine que isso pode não ser prazeroso como tomar um sorvete ou jogar no celular, mas é importante e necessário.
Ensinem suas filhas e filhos a plantar, colher e entenderem a diferença entre um pé de alface e um pé de couve. Você pode não acreditar, mas por falta de ensinamentos básicos muita criança se cria achando que leite é um produto que nasce em caixas. Isso não é engraçado, é um efeito colateral involutivo do nosso tempo.
Não tema o fogo, o fogão, a chaleira nas mãos dos coitadinhos. Se você não ensinar, eles vão fazer muita bobagem e vão se queimar. Educar é confiar nas capacidades e na inteligência deles. É mostrar perigos e ensinar a lidar com perigos.
Eduquem seus filhos para a vida, para capacidades. Prazer não precisa ser ensinado, é um benefício, um privilégio. Ter empregada doméstica em casa não deve ser visto e sentido como alguém que vem acoplado ao lar, quase uma "coisa" um "objeto humano" de limpar e organizar sem parar.
Essas não são dicas moralistas. Educar para a solidariedade é um ato até egoísta e nada poético. Ao ensinar coisas básicas de sobrevivência aos filhos, estamos promovendo confiança e capacidade, auto-estima, senso de dever e responsabilidade.
Evite produzir e multiplicar pessoas que um dia serão adultos entediados, mimados que acharão eternamente que vieram ao mundo a passeio, sem a menor noção do que é resiliência, inaptos para cuidar de si mesmos e de outros, caso se multipliquem preguiçosamente.
A vida pode ser bela, a vida pode não ser dura para herdeiros, mas ela cobrará sempre, de qualquer um de nós, firmeza e força de vontade. Isso não é nato, depende de adversidades e luta pela sobrevivência e nada tem a ver com capacidade de apertar um botão ou deslizar os dedões no Iphone.
Por Cláudia Rodrigues

domingo, 19 de julho de 2015

Incentivar a autonomia é fundamental para o desempenho cognitivo da criança

Pesquisa canadense mostra que, quando as mães dão suporte para que a criança possa realizar atividades sozinha, há uma melhora em sua capacidade de resolver problemas, na memória e no pensamento

Por Naíma Saleh  - Revista Crescer
Mãe bebê brincar blocos (Foto: Thinkstock)

       Você faz tudo para o seu bebê? Tudo até encaixar um bloco de brinquedo que ele não está conseguindo? Veja só: um estudo realizado na Universidade de Montreal com 78 mães e filhos mostrou que, quando elas dão autonomia às crianças, há um impacto positivo na função executiva, um dos pilares do desenvolvimento cognitivo. Essa função engloba a memória de trabalho, raciocínio, capacidade de resolução de problemas e flexibilidade de tarefas, além da capacidade de planejamento e execução de atividades.
        Para o estudo, as famílias foram visitadas em duas ocasiões: quando a criança tinha 15 meses e depois, ao completar 3 anos. Na primeira visita, foi pedido à mãe que ajudasse o filho a completar uma tarefa com um nível de dificuldade consideravelmente alto. Essa atividade durava cerca de 10 minutos e foi gravada em vídeo para que os pesquisadores pudessem analisar o tipo de suporte materno. Ou seja, se ela o encorajava, se era flexível, se incentivava e respeitava o ritmo da criança.
       Quando as crianças completaram 3 anos, os cientistas, por meio de uma série de jogos adaptados, avaliaram a força da memória de trabalho e da capacidade de pensar sobre vários conceitos simultaneamente. Aquelas que obtiveram melhores pontuações tinham mães que ofereciam um suporte consistente ao desenvolvimento de sua autonomia.
      Autônomo desde cedo?
      Você pode até achar exagero dar autonomia ao bebê desde pequeno. Mas trata-se de um processo gradual, que vai se desenvolvendo à medida que o seu filho realiza novas conquistas e adquire condições que contribuem pouco a pouco para que ele se torne independente. “Nós não ‘damos’ autonomia a uma criança, nós vamos ensinando e deixando que ela tente resolver questões, situações e conflitos nos quais houve uma orientação prévia, para que possamos reforçar os conceitos educativos e valores morais ensinados anteriormente. Neste sentido, a escolha da criança não é autônoma, mas supervisionada por pais ou responsáveis”, explica a psicóloga Rita Calegari, do Hospital São Camilo (SP).
       Por isso, não se assuste: incentivar essa independência do seu filho é muito diferente de deixá-lo tomar decisões e fazer escolhas por conta própria. “Esse estímulo desde bebê é extremamente desejável. Para um desenvolvimento psicológico saudável é necessário que se interaja com o ambiente e que este o desafie, isto é: propor à criança situações que estimulem a busca ativa por soluções”, explica o psicólogo e neurocientista Hudson de Carvalho, do Código da Mente. 
       É precisamente este terceiro item que representa o maior obstáculo para os pais: todo mundo quer ver o filho feliz e realizado, por isso é difícil (e doloroso) vê-lo lidar com o erro e a decepção sem interferir.  “O desprendimento surge quando o pai e mãe permitem que a criança lide com a frustração. Deve-se dar incentivos para que o bebê tente resolver algo que tenha condições de dar conta sozinho”, completa Hudson.Isso quer dizer que você deve estar ao lado da criança, orientando no que for possível, incentivando a realização de tarefas e propondo novos desafios, sempre permitindo que ela supere seus limites e explore o ambiente, dentro do que for seguro. “Dar espaço e oportunidade ao bebê é um ato de amor, cuidado e desprendimento”, explica o psicólogo Hudson.
       Quer saber como, no dia a dia, você pode incentivar a autonomia do seu filho? Confira abaixo dicas que você pode aplicar de acordo com a idade da criança:
- Envolva a criança aos poucos em pequenas escolhas do dia a dia. Deixe-a decidir qual será a sobremesa do almoço de sábado, por exemplo. Dê opções de trajes para que decida o que prefere vestir, apresente diferentes livros. Dica: limite o número de opções para que ela não se sinta perdida.
- Deixe o seu filho ciente sobre os ônus e bônus de toda a escolha, antes que ela decida o que quer e dê tempo para que possa refletir.
- Se a criança se arrepender da escolha que fez, ensine-a a lidar com a frustração! Explique que é assim mesmo, que haverá outras oportunidades e que ela fez o que achou melhor para aquele momento. Não a critique ou diga "eu te disse!".

- Separe todos os dias 30 minutos para brincar com seu filho e neste período de tempo se proíba de corrigi-lo, repreendê-lo e guiar a brincadeira. Faça aquilo que ele indicar que quer fazer - desde que não o coloque em risco, claro!

domingo, 29 de março de 2015

O que acontece na infância, não fica na infância…




Há tempos, sabemos da importância da infância para uma vida adulta feliz e saudável. Recentemente, li algo sobre o assunto, que citava o seguinte exemplo: se uma criança, que chora e pede para ser alimentada, é ignorada pela mãe no momento do choro, mas é atendida quando espera em silêncio, esta criança grava em seu subconsciente, que quando quer alguma coisa não deve pedir e nem chorar, mas esperar, pois alguém vai perceber sua necessidade apenas em seu silêncio. Achei o exemplo esplêndido, porque apesar de fazer muito sentido e parecer lógico, é algo tão cruel, que eu não havia pensado nisso. Esta criança se tornará um adulto que não luta pelo que quer, mas que espera silenciosamente. Percebi o quanto pequenas atitudes podem influenciar o comportamento de um individuo a sua vida inteira, sem que o mesmo nem se dê conta.
Certa vez, tive a seguinte experiência com vizinhos de apartamento: as paredes não eram maciças o bastante para abafar os sons mais altos. Todos os dias, a mãe das crianças parecia um anjo enquanto o marido estava em casa: falava baixinho e parecia a melhor mãe do mundo, além de esposa exemplar. Porém, assim que o marido saía de casa, a mulher começava a gritar freneticamente com as crianças. Por vezes, trancava-as no banheiro ou no quarto para limpar a casa. O caso era claro: o casamento não ia bem, a mulher estava sempre competindo com a ex-mulher do marido e tentava a todo custo manter a casa na mais perfeita ordem. Quando o homem chegava em casa, a mesma estava impecável e a mulher parecia ser tranquila.
Eu me pergunto: o que aquelas duas crianças vão levar para suas vidas adultas sobre essas experiências com sua mãe? Será que sempre verão no pai, o falso herói, que era capaz de transformar a mãe nervosa em uma pessoa calma e prestativa? Será que se darão conta algum dia, da oscilação terrível de humor a que eram submetidos diariamente, por conta da insegurança da mãe? De que forma esse tipo de experiência afeta a vida das pessoas quando já adultas? Será que todo estudo de psicologia e psicanálise nos permite mesmo olhar para trás e trabalhar o que nos foi feito quando ainda éramos tão vulneráveis e vazios de aprendizado?
Não conheço as respostas para essas questões, mas gosto das dúvidas que elas proporcionam. Conheço uma psicóloga que decidiu pausar sua vida profissional, quando se tornou mãe. Ela sabia da importância fundamental dos dias infantis de sua filha, para que a mesma pudesse se tornar uma adulta feliz e segura, sem traumas e com comportamentos oriundos de uma infância mal vivida. Certamente, muitas mães fariam o mesmo, se soubessem do grau tão elevado de importância da infância, na vida de um ser humano.
Quer um filho saudável, feliz e bem sucedido? Proteja sua infância. Viva seus dias com ele e para ele. O proteja de atitudes bobas como a da mãe que maltratava seus filhos, toda vez que o marido saía de casa.
Ser criança é ser um indivíduo vazio, pronto para aprender com seus pais, absorvendo tudo, sem possibilidade de filtrar o que é bom e o que é ruim. Se na maioria das vezes, nem mesmo os pais percebem o quão falhos são, quem dirá as crianças?
Não somos responsáveis por nossa infância e nem pelo que fizeram conosco. Sobre isso e para isso, utilizamos os recursos da psicologia. Mas somos sim, totalmente responsáveis pela infância de nossos filhos.
Que todo amor seja destinado aos nossos. E quando necessário, vale buscar ajuda profissional, já que o assunto é tão sério, delicado e difícil.
Porque o que acontece na infância, não fica na infância.
Mas fica… para a vida toda!
Por Carolina Vila Nova

domingo, 22 de março de 2015

A importância dos objetos inseparáveis do bebê e da criança

Quem mergulha no baú musical dos anos 80 encontra o ursinho que consolava o apaixonado não correspondido. Só pra lembrar:
Meu ursinho Blau Blau
De brinquedo
Vou contar pra você um segredo
Só você mesmo pra me aturar
(…)
Ai, meu amigo Blau Blau de brinquedo
Diz pra ela esse nosso segredo
(…)
 
Ouvir segredos íntimos, estar ao lado, consolar. Servir de apoio, dar segurança. É isto que Blau Blau e tantos outros bichinhos de pelúcia ou tecido, cobertorzinhos, paninhos e travesseirinhos fazem na vida dos pequenos.
Denominados objetos transicionais pelo pediatra e psicanalista inglês Donald Winnicott (1896-1971), eles conferem às crianças suporte emocional, especialmente nos momentos de separação ou solidão. Sua importância é tão grande que até os personagens infantis os carregam consigo onde quer que estejam.
objetos transicionais
Quando os bebês nascem eles encontram-se num estado fusional com o ambiente – a mãe, outro cuidador ou objetos que lhe são apresentados. Eu-outro é vivido pelo bebê como um só ser.
Por volta do terceiro mês inicia-se a transição de ser um para ser dois. Com ela, é comum o bebê utilizar a ponta do lençol, da fronha, do cobertor, do paninho usado para arrotar, da própria orelha, ou mesmo chupar o dedo ou emitir pequenos sons para minimizar a angústia presente nos momentos de ruptura. Do mesmo modo, se o bebê tem à disposição brinquedos macios ou chupeta, estes podem cumprir com esta função acalentadora.
A maioria dos bebês elege um objeto transicional entre o quarto e o décimo segundo mês de vida. No entanto, alguns bebês não escolhem um objeto que simbolicamente substitua a proteção materna. Isto só deve ser motivo de preocupação quando não é dada ao bebê a oportunidade dele ter sempre ao seu lado o mesmo objeto (a constância do objeto é tão importante quanto à constância do ambiente para o bebê sentir-se seguro), ou quando, em casos mais raros, a escolha fica inviabilizada em função de um sofrimento psíquico que impede o bebê de viver os estados de ruptura – ou seja, ele encontra-se patologicamente fundido à mãe (comum nas psicoses) ou totalmente isolado em seu mundo interno.
Quando os bebês começam a balbuciar, normalmente inventam um nome para seu “companheiro”, geralmente utilizando som muito parecido com o da pronúncia da palavra que o adulto o denomina – Fafá, para uma fraldinha;Au, para um cachorrinho; Tatá, para uma chupeta. É como se eles tivessem uma vida real. Por isso, qualquer tentativa de substituição do objeto eleito é vivenciada pela criança como uma agressão. Aliás, não é preciso nem tentar trocar um objeto por outro; basta lavá-lo e seu cheiro e toque serem modificados para a criança não reconhecê-lo como seu.
Ao mesmo tempo em que os objetos transicionais são inseparáveis e muito amados pela criança, eles também podem ser momentaneamente odiados. Por isso, não é incomum a criança arremessá-lo para longe, arrancar-lhe um pedaço, pisar em cima dele. Mesmo “destruído”, a criança perceberá que seu objeto amado continua existindo, não como algo físico, mas como algo que o conforta nas transições presença-ausência materna (ou do cuidador), como na hora de dormir, nas despedidas e nas situações desconhecidas. A criança faz com seu objeto amado o mesmo que faz com os pais: ama-os, mas pode odiá-los em alguns momentos. Aos pais, fica o desafio de sobreviver à segunda parte!
Os objetos transicionais não tem idade para serem deixados de lado. Uma vez que a criança o despreze, ela pode querê-lo de volta num momento mais delicado de sua vida, como nas situações de mudanças ou doenças. Se ela já não o encontra mais, ela pode implorar pelo objeto relegado ou eleger um novo. É como se ela pedisse um colinho, um consolo, como na música do Ursinho Blau Blau. Nessas horas, se não há ursinho, paninho, chupeta ou afins, a presença efetiva dos pais é fundamental para que ela possa atravessar a dificuldade com mais segurança e inteireza. Os objetos substitutos são importantes; os reais, imprescindíveis!

sábado, 21 de junho de 2014

9 consequências que “terceirizar os filhos” pode causar



Oi, meninas!
Hoje em dia é muito comum ouvirmos o termo “criança terceirizada”. Mas o que realmente isso quer dizer e o que isso pode causar nas crianças?
As crianças terceirizadas são aquelas cujo os pais transferem para terceiros a tarefa de cuidar, se preocupar e se responsabilizar por elas. Realmente o termo é um pouco forte, mas, atualmente, os pais estão deixando os filhos sob a responsabilidade de terceiros cada vez mais para fazer suas coisas, mesmo que não seja ir trabalhar.

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Nunca me esqueço de uma história que me contaram e que fiquei chocada… Uma mãe (que não conheço) tem três filhas que ficam aos cuidados da babá, pois ela é executiva de alto padrão e precisa realmente se dedicar à carreira. Até aí, ok… Mas, naqueles dias em que ela poderia chegar em casa mais cedo para ficar com as crianças, ligava para a babá e perguntava se as meninas ainda estavam acordadas. Em caso afirmativo, ela dizia que então entraria pela porta dos fundos para as meninas não a verem e pedia para a babá avisá-la quando já estivessem dormindo. Oi??? Desculpem, mas não consigo entender esse tipo de atitude.
Quero deixar claro que não estou aqui para julgar ninguém, apenas informar pessoas, por meio de dados científicos e psicológicos de algumas consequências que esse tipo de conduta pode causar. Ninguém aqui precisa provar nada para ninguém, criar filhos não é algo que se faça sozinho. Precisamos, sim, de uma ajuda. E também não acho que a mulher precise de fato abandonar sua carreira.

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Enfim, um vídeo muito conhecido do pediatra Dr. José Martins Filho, professor da Unicamp e autor de livros conceituados sobre este mesmo assunto, explica que esse “abandono” traz consequências e faz surgir a figura da “criança terceirizada”. Baseado nele e em outras fontes, fiz uma lista das consequências que isso pode causar.

young mother leaving a child/baby with a baby-sitter

Vamos à lista!

1) Quebra de vínculos
Por mais que a mãe precise trabalhar, é muito importante que ela se planeje e que consiga ficar o maior tempo possível com seu filho. Substituir os cuidados da criança com algum outro adulto (babá, avó, avô etc.) não é a mesma coisa. O vínculo, principalmente no primeiro ano de vida do bebê, é fundamental e é maior com a pessoa que cuida, que fica junto. Portanto, se o bebê passa 90% do tempo com algum outro cuidador, o vínculo será maior com ele. Martins não critica as mães que precisam realmente trabalhar e ajudar a família, mas pede que priorizem os filhos. “Trabalhem, mas não esqueçam as crianças. Sempre que possível, fiquem com elas. Deem atenção e mostrem carinho”.

2) Educação que os pais não aprovam
Muitos pais exigem que as escolas eduquem seus filhos. Porém, o papel da escola é alfabetizar, ensinar conhecimentos gerais, dentre outras coisas. Mas a educação vem de casa. Quem deve ensinar a andar, tirar a fralda, chupeta, falar “obrigado”, “por favor”, portar-se à mesa, ter afeto, modo de conversar etc., é a família! Portanto, não exija uma educação exemplar se você não tem paciência para mostrar ao seu filho o que é certo.

3) Falta de limites
Assim como na educação, os pais é que devem saber impor limites às crianças. As crianças terceirizadas, na grande maioria das vezes, não têm limites. Isso porque os pais chegam em casa tarde da noite e não querem brigar com os filhos, não querem que as crianças chorem ou gritem por algum motivo, então eles acabam cedendo a tudo o que os filhos exigem. E esse tipo de atitude é crucial na educação.

4) Prioridade invertida
O que acontece atualmente é que os pais têm grande limitação em abrir mão do conforto da vida que tinham antes dos filhos. Ou seja, querem o prazer de ter filhos, mas ignoram o desprazer, como se o ônus e o bônus não fizessem parte do mesmo pacote. O que é realmente prioridade na vida dos pais? A presença do pai ou da mãe é fundamental nos momentos de troca de fralda, quando a criança está adoecida, quando está num momento de birra… Não apenas quando está sorrindo e brincando.

5) A não valorização do outro
Diversos casos de delinquência juvenil, quando observados de perto, mostram crianças que foram totalmente solitárias, criadas sem vínculos razoáveis e, por viverem sob um abandono dilacerante, não aprenderam a valorizar “o outro” e não pensam que as pessoas devam ser respeitadas.

6) Problemas com figuras de autoridade
As crianças verdadeiramente terceirizadas, ou seja, as que possuem vínculos enfraquecidos com seus pais, provavelmente terão uma relação complicada com figuras de autoridade, pois, ao longo de suas vidas, exerceram autoridade sobre ela, pessoas com quem ela não possuía vínculos afetivos suficientes.

7) Baixa autoestima
A forte ausência dos pais pode também causar baixa autoestima nas crianças. É muito importante que os pais estejam presentes nos eventos escolares, nas entrevistas com os professores, nos jogos de futebol do colégio e qualquer outro compromisso em que elas solicitem sua presença. A “falta” dos pais nessas ocasiões, mexe muito mais com os filhos do que você imagina. Principalmente, no momento de ir aos consultórios médicos (hoje em dia muitos pais delegam essa “função” para as babás). As crianças já se sentem acuadas nesses ambientes, e a presença de um dos pais é fundamental para transmitir confiança, segurança e conforto.

8) Problemas comportamentais
Estes problemas são muitas vezes um escudo que as crianças usam para proteger suas questões profundas de abandono e medo. Por exemplo, uma criança que vive em um lar com pais totalmente ausentes, tem mais chances de desenvolver uma atitude negligente com um ar de superioridade arrogante para esconder o fato de que ela realmente os quer em sua vida.

9) Sensação de falta de afeto
Muitos pais podem estar fisicamente próximos de seus filhos durante a maior parte do dia, mas podem não estar afetivamente disponíveis a eles. Não conversam intimamente, não brincam, brigam e gritam a maior parte das vezes que se dirigem à criança. Crianças precisam se sentir amadas, precisam saber que são prioridade! Não consigo imaginar meus filhos sentindo falta de afeto, isso aperta meu coração. Tudo o que mais queremos na vida é que nossos filhos saibam que são as pessoas mais importantes das nossas vidas e que são MUITO amados! Isso faz toda diferença no desenvolvimento deles.

Fonte: DE MÃE PARA MÃE  -  por Renata

sexta-feira, 23 de maio de 2014

5 erros que os pais cometem na hora de educar


Pode ser que você não perceba, mas, de vez em quando, repete os mesmos erros. Aprenda a identificá-los e corrigi-los
Calma! Educar é muito difícil, cansativo e todos sabem dos seus esforços para fazer o melhor. Entre uma conversa e outra, porém, pode escapar uma mentira antes de perder a paciência, sem que você m perceba. CRESCER conversou com especialistas para mostrar os erros mais comuns que os pais cometem durante a educação. Ah, e como corrigi-los, claro. Confira.
ERRO 1: Mentir
“Esse carro só liga quando todos os passageiros estiverem com o cinto. Só falta você colocar o seu”. Quantas vezes, você já se pegou mentindo para o seu filho para conseguir que ele faça algo que você deseja? Pode ser mentira ou chantagem, não importa. A relação entre filhos e pais deve ser o mais clara possível. Como ele vai confiar se você mente? “E não importa o quanto essa mentira seja insignificante, toda vez que você mente, você perde a chance de conversar abertamente”, diz a psicoterapeuta Teresa Bonumá, de São Paulo.
COMO CORRIGIR: Troque a mentira pela conversa. Seja objetivo e explique a situação em detalhes para a criança entender. Em vez de dizer que o carro só liga se o seu filho colocar o cinto, peça para ele colocar o cinto, porque só assim, vocês podem transitar com segurança.
ERRO 2: Ameaçar e não cumprir
Quem escolhe esse caminho, já sabe: da próxima vez que usar a mesma tática, seu filho não vai ouvi-la. Os exemplos são muitos: “se você não parar de jogar areia, vou tirar os seus brinquedos” ou “se você não me obedecer, vai ficar sem televisão”. Quando ele perceber que mesmo sem parar de jogar areia, os brinquedos continuam ali, não vai nem ligar quando você fizer o mesmo em uma próxima situação.
COMO CORRIGIR: Em vez de ameaçar, avise o seu filho. Se ele persistir, tome alguma atitude imediatamente. Da próxima vez que isso acontecer, apenas o lembre do que aconteceu: “lembra que você ficou sem os brinquedos da última vez que jogou areia? Espero que isso não se repita, combinado?”
ERRO 3: Desautorizar o pai (ou a mãe) na frente das crianças
Após aquela arte que seu filho aprontou, seu marido decide colocá-lo de castigo. Durante a conversa entre eles, você se intromete, dizendo que basta uma conversa. O mesmo pode acontecer na hora de decidir o valor da mesada, o horário de buscá-lo na festa e assim por diante. Ao questionar a decisão do seu companheiro, você diminui a autoridade dele perante as crianças.
COMO CORRIGIR: O melhor é sempre conversar antes de tomar a decisão. Se não for possível, não discuta na frente do seu filho. Espere para falar com o pai depois.
ERRO 4: Comentar os defeitos do parceiro com seu filho
“Seu pai é tão pão duro. Ele nunca vai comprar esse brinquedo para você”, “Nossa, sua mãe é muito atrapalhada, não consegue organizar as coisas”. Conversar sobre as falhas do seu parceiro com seu filho é tentador porque é ele que está no dia a dia ao seu lado, vivendo as mesmas situações. Mas não é um bom exemplo a ser dado. Em primeiro lugar, a atitude mostra desconsideração pelo pai (ou mãe) da criança. E, pior ainda, ela pode entender que pode fazer isso com qualquer pessoa também.
COMO CORRIGIR: O comentário pode ser feito, mas na frente da pessoa para que ela possa se defender e assimilar a dica. Ah, e isso até pode virar uma brincadeira.
ERRO 5: Quebrar as regras
Seu filho já sabe que não pode comer assistindo TV. Mas, um belo dia, você está almoçando às pressas e liga a televisão. Rapidamente, seu filho chama a sua atenção. Para tentar escapar, você inventa uma desculpa e diz que você pode fazer isso, mas ele não.
COMO CORRIGIR: Não tem jeito! O seu exemplo é a melhor solução. É ele que vai inspirar o seu filho a ser uma pessoa melhor.
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sexta-feira, 14 de março de 2014

A CRIANÇA TERCEIRIZADA

A criança terceirizada – parte 1

Mariana Sgarioni
Fonte: www.nmagazine.com.br
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“É uma falta de responsabilidade esperarmos que alguém faça as coisas por nós…”

John Lennon

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Antes de ser mãe do Benjamin, eu era mãe de dois cachorros. Para cumprir meu dever de ofício (e para não ter minha casa cheia de xixi e cocô), eu passeava com eles pelo menos uma vez ao dia. Conhecia todos os cachorros da região e seus respectivos donos. Sabia quem era o pai de quem – embora, verdade seja dita, eu só soubesse os nomes dos cachorros. Aquele ali é o dono do Bolota; o outro é o dono do Tobias; e o outro lá é o dono da Lolita. Mas, ainda sem nome, todos nos conhecíamos. Se eu encontrasse determinado cachorro com outra pessoa, ficava preocupada, pois não era o normal.
Pois bem. Hoje sou mãe de um ser humano e afirmo que boa parte dos outros pais eu nunca vi. Pense que isso acontece há 4 anos. Na pracinha, quem está lá é a babá. No pediatra, é a babá. Na escola, de novo, a babá. No shopping, é ela, a babá. Na festa de fim de semana, é vez da babá folguista. Não faço a mínima idéia da cara desses pais.
Outro dia estávamos na praia e encontramos uma amiguinha do Benjamin, cujos pais estavam para mim assim como o Saci Pererê e a Mula sem Cabeça estão para o imaginário popular – sabe-se que existem, mas ninguém nunca viu. Fomos falar com a menina, com a intimidade de velhos conhecidos que somos. E eis que me aparece um homem alto, bonito e bronzeado, sorrindo:
“Olá, muito prazer, sou o Beto, pai da Natália. Vocês são quem mesmo?”
Respondi que eu era a mãe do Benjamin, e que eu conhecia a Natália desde que ela tinha uns seis meses. Que ela já foi brincar lá em casa, já almoçou conosco, entre outras coisas. Qual foi minha surpresa quando ele não demonstrou nenhum constrangimento por sequer ter ouvido falar destas pessoas tão próximas da filha.
“Ah, sim, a babá deve conhecer vocês, né? Tem muita gente que não conhecemos, sabe como é, trabalhamos muito”.
Tem uma outra criança que mora aqui no nosso prédio, que já deve estar lá pelos seus sete anos, cujo pai também jamais apareceu em público. Fico intrigada por nunca ter encontrado esta criatura, mesmo morando no mesmo endereço. A mãe só vi duas vezes – e, nas duas, ela se justificou que o casal trabalha tanto que mal consegue conhecer os vizinhos.
Aqui em casa também trabalhamos demais. No entanto, sempre damos um jeito de participar ativamente da vida do nosso filho. Meu marido corre feito louco para sair do trabalho e atravessar a cidade a tempo de dar banho e contar uma história para Benjamin dormir. Eu viro noites em claro para poder estar com ele o dia inteiro. Todos os finais de semana estamos juntos. Por mais que tenhamos milhares de compromissos profissionais a cumprir, não consigo enfiar na cabeça como tem gente que não dá um jeito de estar presente na vida das pessoas que deveriam ser as mais importantes do mundo. Já vi professoras da escola escrevendo bilhetes gentis aos pais, pedindo que eles façam o favor de trocar a roupa dos filhos diariamente. Também já ouvi babás reclamarem que, quando elas chegam na segunda-feira de manhã, costumam pegar os bebês com os bumbuns assados, porque passaram o final de semana inteiro com as fraldas sujas – sob os cuidados dos pais. E já ouvi pediatras implorando para que certas mães levem as babás nas consultas, por serem estas as únicas a conhecerem os hábitos da criança.
Ninguém é obrigado a ter filhos. Vir com essa conversa fiada de que qualidade do tempo com a criança é melhor do que quantidade é papo furado de quem quer apaziguar a própria culpa (mande essa da qualidade do tempo para seu chefe e veja se cola. Pois é, com seu filho também não).
Para reflexão, deixo aqui um trecho do livro A Criança Terceirizada, do pediatra José Martins Filho:
“Em nossa sociedade já não se pode falar em patriarcado e matriarcado. O que temos realmente, salvo exceções interessantes, é a ausência de definições de papéis, de quem assume o que em relação à família ou aos filhos. As pessoas vivem com medo de ser criticadas, de assumir que tiveram a coragem de fazer uma opção pela família. O que se propõe? A volta da mulher à condição de dona de casa e rainha do lar? Claro que não, o que se propõe é a conscientização da paternidade e maternidade. Crianças choram a noite, nem sempre dormem bem, precisam de cuidados especiais, de limpeza, de banho, alimentação, ser educadas e acompanhadas até idade adulta. Será que todos os seres humanos precisam ser pais? Sejamos sinceros, nem todo mundo está disposto a arcar com esse ônus. Talvez seja melhor adiar um projeto de maternidade, e mesmo abrir mão dessa possibilidade, do que ter um filho ao qual não se pode dar atenção, carinho e, principalmente, presença constante.”

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Adolescência e Mentira

Adolescência e Mentira: histórias de pescador ou falta de caráter?

(Claudia Pedrozo)
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Esta semana estava aguardando (infinitamente!) para ser atendida numa consulta e  matava o tempo folheando uma revista feminina quando deparei-me com uma mãe que pedia socorro a um especialista, relatando que tem uma filha pré-adolescente que mente demais, segundo a mãe, a garota é compulsiva, mente por qualquer coisa. A mãe relatava já ter passado por vários estágios da raiva à piedade, mas a situação só se agravava. Foi dura, bateu, gelou, castigou, privou de tudo que é prazeroso, fez chantagem emocional, elogiou, premiou e… nada, a menina continua mentindo, e mesmo quando é “desmascarada”, age como se tivesse sendo vítima da maior injustiça do mundo, dizendo que faz o que faz para ajudar os outros, para não magoar ninguém e que sofre com as atitudes injustas dos pais ou age como se nada tivesse acontecido, embora fique num monólogo apontando justificativas e injustiças. Num determinado momento da queixa a mãe diz que a compara com o irmão  mais novo que não mente. Os pais estão com medo dela se tornar uma criança de má índole, estão arrasados, não encontram uma solução,não sabem o que fazer. A mãe reforça que a filha é maravilhosa e o que a estraga é a mania de mentir. Sente que a filha precisa de ajuda, conta que a garota é muito fechada e que por mais que tente, esta não se abre com ela. Termina afirmando que cuidar de filhos não é fácil!
Coincidentemente (Jung não acredita em coincidências, mas sim em sincronicidade, tipo Lei da Atração!) no mesmo dia uma colega me falou sobre o mesmo problema com o filho e sugeriu que eu escrevesse algo sobre o assunto. Bem, vou tentar!
Muitas são as questões que a mãe da revista traz. Podíamos fazer a psicanálise selvagem analisando uma série de coisas, mas vamos nos ater à questão da mentira na adolescência.
Aprendemos desde pequenos que mentir é errado.  Informação dada não significa valor introjetado.  Deste modo ouvir que mentir é errado e não mentir de modo algum ao longo da vida são ações distintas. Não é porque ouvimos que fazemos.
Para muitos pais perceber que o filho mente compulsivamente pode despertar um sentimento de ter fracassado na educação de valores que a família tentou passar para ele. Nem sempre isso é uma verdade. Nem tampouco é sempre mentira! Há casos e casos e cada um é um!
Nos educamos pelos exemplos, nossos valores são construídos com base nos valores e atitudes de nossa família e nos da sociedade em que vivemos.
A mentira está presente em nossas vidas. Muitas vezes a achamos “necessária”, logo perdoada, muitas vezes a condenamos, logo reprimimos.
Na sociedade moderna a mentira é tão frequente que já se banalizou. Encontramos mentirinhas e mentimos muitas vezes ao dia, em diferentes situações sociais. Fazemos um elogio mentiroso, damos desculpas esfarrapadas ou mentimos descaradamente por mil razões: medo das consequências negativas, insegurança, pressão social, ganhos ou patologicamente.
Quando crianças, mentimos para não sermos punidos.  Na infância, até os cinco, seis anos a criança não consegue distinguir claramente a realidade da fantasia, a partir dos sete anos aproximadamente, ela já sabe o que é mentira e a usa em “beneficio próprio”.
Na adolescência mentimos para sermos aceitos e amados, para atender ao desejo de fazer o que queremos e a realidade de atender ao que esperam de nós. Mentir é estratégia comum entre os adolescentes para conseguir fazer coisas que sabem que não serão aprovadas pelos pais.
Crianças/adolescentes com superego rígido (censura) podem se tornar mentirosos compulsivos ao descobrirem que a mentira sacia a curiosidade dos pais ou os ajuda a serem aceitos e valorizados pelas pessoas, em especial por outras crianças/adolescentes
Na vida adulta mentir é uma forma de se preservar, de não ter que assumir responsabilidades por algo que não deu certo. Está presente em muitos mecanismos de defesa que usamos cotidianamente: na atuação (quando nos passamos por algo que não somos, mas que os outros (ou nós mesmos) gostariam que fossemos, na idealização (quando nos mostramos de forma idealizada, que não corresponde com a realidade), na intelectualização (quando usamos a inteligência para criar argumentos que justifiquem condutas que sabemos não serem condizentes com nossos valores, mas que lá no fundinho desejamos), na racionalização (quando fazemos “caquinha” e usamos argumentos lógicos para explicar o que fizemos, nos isentando da responsabilidade da escolha), por exemplo.Ao mentir podemos ser “anjo” – mentir para agradar  – ou “demo” mentir para poder receber algo em troca.
A mentira está presente em pessoas normais ou pessoas com problemas sérios como Neuroses e Psicoses. Nos estados neuróticos, a mentira surge devido a incapacidade de  enfrentarmos  desejos recalcados e que se encontram no  inconsciente ou por problemas de baixa autoestima Nos estados limite, chamados Borderline,  a mentira revela a  falta de barreiras externas que regulem o comportamento do indivíduo. Esta situação decorre geralmente de uma educação feitas por pais muito repressivos ou demasiadamente permissivos. Na Psicose a mentira está presente nos delírios. O psicótico acredita piamente nos delírios por ele criados para fugir da realidade, do sofrimento que a realidade lhe impõe. O hábito de mentir compulsivamente pode ser também uma patologia conhecida por Mitomania. Neste caso a mentira é como um vício, o mentiroso é dependente emocional da mentira, ele é incapaz de se controlar, quando vê a mentira já foi contada e para mantê-la mente mais e mais. Esta patologia causa muito sofrimento e a terapia é uma saída para enfrentar o problema.
Dentro de padrões de comportamento não patológicos a mentira pode ser considerada uma falha de caráter, entendendo  caráter como um conjunto de características e traços relativos à maneira de agirde reagir de um indivíduo ou de um grupo”.
Se seu filho mente descaradamente e esta mentira prejudica a ele ou a outras pessoas você deve ficar atento(a). Mentir para sair com o namorado ou fazer um passeio em um lugar perigoso é diferente de roubar dinheiro da sua carteira. Uma coisa é testar limites, outra é transgredir lesando o outro. Ao perceber esta situação os pais devem chamar o jovem à realidade, devem passar a acompanhá-lo bem de perto, se fazendo presentes de forma educadora e carinhosa, intervindo e orientando sempre. Mas cuidado com a manipulações e dissimulações, por isso confie, desconfiando! Mentir faz parte da adolescência, caracterizam uma necessidade de distanciamento e diferenciação na busca do encontro consigo mesmo.
Diante das mentirinhas recorrentes, avalie as relações interpessoais que há no seu âmbito familiar. Estabeleça o diálogo, mostrando ao adolescente que a mentira pode trazer consequências negativas, mas cuidado com o monólogo, pratica comum dos pais que dissertam sobre algo com seus filhos. Observe se o que você ensina está coerente com o que você pratica. Você tem pedido a cumplicidade de seu filho para “pequenas mentirinhas”? Tem valorizado as espertezas de seu filho no hábito de inventar “mentirinhas brandas”? Você é um(a) educador(a) observador(a) ou um(a) intrometido(a), que suspeita e invade a privacidade do adolescente, minando o clima de confiança entre vocês?
Ai, meu Deus… Como identificar uma mentira?
Somos programados para dizer a verdade. Quando mentimos nosso corpo nos delata! Especialistas afirmam que ao mentir emitimos sinais não verbais da mentira que podem ser captados por um interlocutor mais atento. Os sinais mais comuns em crianças, adolescentes e adultos pode estar no choro sem lágrimas ou que para de repente ao ser atendido, na colocação da mão na boca, no morder ou coçar a região labial, no desvio dos olhos, na dilatação das pupilas, nas pausas longas e frequentes no discurso, marcado por repetir a pergunta antes de responder, no sorriso curto, nervoso e inexpressivo, que some com rapidez, na falta de gesticulação ou nos gestos dissociados das palavras.
Há ainda uma outra faculdade que não deve ser esquecida nunca pelos pais: a intuição.
Ouça a sua sempre. E investigue e dialogue sempre.
Voltando à mãe da revista, ela está certa. Educar é trabalhoso! Requer orientação, limites e verdade. Acima de tudo seja coerente. Como dizem por aí, “palavras movem, exemplos arrastam”!