segunda-feira, 13 de agosto de 2012

PAVOR DE CÁLCULOS

Crianças que mostram dificuldades com números podem sofrer de ansiedade matemática

Minha filha Flora tinha apenas seis anos quando me contou que não conseguia entender nada das aulas de matemática. Nós abordamos a questão na reunião de pais seguinte, e nos foi assegurado que o desempenho dela estava bom. Começamos a notar, porém, que Flora, às vezes, fazia suposições completamente ilógicas ao tentar realizar somas básicas e era facilmente confundida por qualquer coisa numérica.

Até Flora mudar para uma nova escola, suas dificuldades não haviam sido identificadas. Então, um abismo entre seu desempenho na alfabetização e na matemática apareceu, nos fazendo suspeitar que ela poderia ter descalculia, um tipo de dislexia com números. Nós a levamos a um especialista, que deixou claro que, apesar de Flora não ter o problema, sua matemática era muito fraca. Ela aconselhou que nossa filha não tivesse aulas da disciplina em uma turma convencional. Em desespero, fomos a um psicólogo e descobrimos que os problemas de Flora não eram uma questão de capacidade, mas de ansiedade.

Acredita-se que a ansiedade matemática, o sentimento de medo em relação a cálculos, afete muitas crianças. O problema foi identificado pela primeira vez nos anos 1950, mas a maneira como seu impacto devastador afeta a performance só ficou evidente agora. Pesquisadores da Universidade Stanford, nos EUA, fizeram exames para ver o que acontece no cérebro de crianças com ansiedade matemática. Descobriram que elas respondem aos cálculos da mesma forma que pessoas com fobias costumam reagir a cobras ou aranhas, mostrando aumento da atividade nos centros ligados ao medo. Isso, por sua vez, provoca redução de atividade nas áreas responsáveis pela resolução de problemas, tornando difícil chegar às respostas certas.

Vinod Menons, o professor que liderou o projeto, explica seu significado:

– A pesquisa é importante por ser a primeira a identificar os fundamentos neurológicos e de desenvolvimento da ansiedade matemática, e nossos resultados têm implicações significativas para a identificação precoce e o tratamento do problema. Também é importante porque mostra que a ansiedade matemática nas crianças é real e precisa ser tratada se persistir.

Não há ferramentas para estabelecer diagnósticos formais. Além disso, dizer para uma criança que ela tem um problema pode afetar ainda mais sua produtividade, de acordo com Mike Ellicock, diretor-executivo da organização filantrópica National Numeracy:

– Rotular e categorizar crianças entre os que podem e os que não podem fazer cálculos não ajuda. Mas, com incentivo e apoio da maneira correta, todos podem atingir um bom nível.

O fato de constantemente enxergarmos a matemática como algo para poucos gênios também atrapalha. A disciplina envolve respostas que são certas ou erradas, e métodos de ensino centrados em respostas rápidas, aritmética mental e resoluções de cálculos dadas em frente aos colegas são inúteis para os menos confiantes. A maioria dos professores entende que a confiança é tão importante quanto a competência quando se trata de matemática.

Tradução: Paloma Poeta


Exercícios de relaxamento
 Especialistas da área, como o professor David Sheffield, do Centro Universitário Derby de Pesquisas Psicológicas, um dos maiores entendidos em ansiedade matemática na Grã-Bretanha, acredita que o impacto do problema pode durar a vida inteira. Então, o que fazer?

– A primeira coisa a se dizer é para não fazer mais cálculos. Não é provável que mais matemática funcione, porque esse é o causador da ansiedade. Tente lidar com o problema usando métodos simples, como relaxamento e exercícios de respiração. Fizemos um estudo em que colocamos as pessoas em exercícios de relaxamento. Os níveis de ansiedade caíram, e elas foram capazes de resolver mais problemas – diz.

Para Flora, uma ajuda extra para redescobrir o básico e uma abordagem suave na nova escola começaram a gerar benefícios, e ela passou a acompanhar as lições gradualmente. Flora tem estado mais feliz e menos estressada, o que Michael Roach, seu diretor na escola John Ball, aponta como o possível segredo:

– O que temos observado nos últimos anos é que a luta contra a ansiedade e a melhora na autoestima das crianças podem ser a chave, já que aumentam a confiança. Uma vez que a ansiedade se estabelece, pode ser muito desafiador vencê-la. Trabalhamos arduamente para tornar a matemática relevante dentro de um contexto da vida real e, acima de tudo, divertida.

KATE BRIAN | The Guardian

Fonte: Jornal Zero Hora

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