domingo, 19 de agosto de 2012

As demandas de aprendizagem na adolescência



Os desafios e as demandas de aprendizagem se modificam, significativamente, durante a adolescência. As exigências sobre a atenção, neste período, requerem energia mental mais consistente e sustentada, processar mais eficazmente a informação e ter uma habilidade marcadamente maior para produzir trabalho escolar. Os adolescentes precisam mais técnica para lembrar, recordar e reunir informação nova, como regras mnemônicas e associações visuais. Os novos desafios visuais/espaciais incluem maiores exigências de raciocínio não verbal, estratégias de visualização e familiaridade com a interpretação e produção de representação gráfica e informação.
Nesta etapa do desenvolvimento, assume-se que as aptidões seqüenciais incluem a capacidade de classificar, adequadamente, o trabalho, prever o que é necessário para efetuá-lo, elaborar esquemas realistas para concretizar tarefas a longo prazo e organizar o trabalho escolar no contexto de uma vida ocupada com mais demandas sociais e atividades externas. As exigências lingüísticas requerem maior ênfase na linguagem abstrata, a aprendizagem de um segundo idioma, um raciocínio verbal mais complexo e uma demanda consideravelmente maior de fluidez na linguagem escrita.
As aptidões neuromotoras exigem escrever rápido, tomar notas e manejar um teclado de computador. Se a escrita não for automática, ou for lenta demais, a produção pode ficar seriamente afetada. O aumento das exigências cognitivas inclui a capacidade de resolver problemas avançados e maior habilidade para manejar conceitos abstratos. O transtorno por déficit de atenção e hiperatividade pode, também, ocorrer em adolescentes e tem três subtipos: predominância de desatenção, predominância de hiperatividade e impulsividade e combinado. Nos dois últimos, com freqüência, são os professores os que alertam os pais, sendo o problema posteriormente encaminhado ao psiquiatra de crianças e adolescentes. O tipo predominantemente desatento, amiúde não é detectado. Manifesta-se, fundamentalmente, através de dificuldades no desempenho escolar, com uma produção de trabalho lenta, apresentando-se, em geral, ao mesmo tempo que sintomas de ansiedade ou depressão.
O transtorno por déficit de atenção e hiperatividade – TDAH – apresenta-se de modo diferente na adolescência em comparação com a infância. Entre os adolescentes, freqüentemente, a hiperatividade é menor e o distúrbio caracteriza-se mais por impulsividade contínua, rendimento pobre e fracasso escolar. As deficiências sociais anteriores são mais notórias na medida em que as más relações com os companheiros tornam-se mais evidentes e significativas, justamente em pleno processo de amadurecimento, no qual a aceitação pelo grupo de amigos adquire maior importância. Devido à contínua impulsividade, os comportamentos de alto risco na infância convertem-se em comportamento de risco extraordinariamente altos na adolescência. Os desafios às regras menores ou ao intento de pôr limites dos pais na infância precoce e média, convertem-se, agora, em abuso de drogas, delinqüência, atividade sexual precoce e sem proteção, e comportamento anti-social repetido.
O diagnóstico e tratamento dos distúrbios da atenção do adolescente associam-se a vários fatores que complicam a situação. Devido ao processo de separação e individualização do adolescente, os pais podem não ter uma boa fonte de informação. A comunicação do estudante com os professores geralmente se complica ao ter vários professores, nenhum dos quais pode conhecê-lo o suficiente como para estabelecer necessidades específicas de aprendizagem.
Os fatores que favorecem um bom prognóstico em adolescentes com TDAH são a avaliação e a intervenção precoces; compreensão e aceitação próprias de problemas; uma família que apóia e um sistema escolar compreensivo e compatível com o nível de desenvolvimento.
Outras causas
Outros fatores podem provocar distúrbios do aprendizado na adolescência, como por exemplo, o uso de drogas e álcool durante o período gestacional possibilitando distúrbios da atenção e da capacidade cognitiva. O mesmo acontece com a exposição significativa a substâncias tóxicas como o chumbo. Os problemas auditivos e visuais, especialmente quando não identificados, podem ser causas de mau rendimento escolar e subseqüentes problemas de comportamento. Além disso, determinados medicamentos, como alguns antialérgicos e medicamentos contra a asma podem induzir à lentidão no processo cognitivo e causar problemas de atenção no colégio.
Pode também acontecer, que adolescentes com um funcionamento intelectual bordeline – QI entre 70 e 85 – não tenham sido identificados na infância ou tenham sido rotulados como “alunos lentos”. Podem não preencher os critérios para receber uma ajuda especial do sistema escolar porque seus resultados acadêmicos não discrepam, significativamente, de suas habilidades cognitivas (QI). Estes adolescentes são, especialmente, propensos ao fracasso escolar quando o sucesso demanda uma habilidade muito maior para organizar, planejar, completar e entregar trabalhos e depende da disponibilidade e utilização de muitas aptidões cognitivas de nível mais alto.
Alguns adolescentes podem apresentar distúrbios emocionais e de comportamento, que se caracterizam por perda do autocontrole e desafio às solicitações e regras dos adultos. Estes adolescentes culpam a outros pelos próprios erros, são obscenos, e têm facilidades para serem sensíveis ou aborrecerem-se, zangarem-se, sentirem ressentimentos e rancores e serem vingativos. Durante a adolescência estes atributos podem conduzir a um aumento de conflitos na escola e no lar à medida em que se torna notória a individuação no processo de desenvolvimento.
Outro ponto de grande importância é que os distúrbios depressivos nos adolescentes amiúde não são identificados por pais e professores e podem apresentar-se como fracasso escolar inespecífico e/ou isolamento social.


Alfredo Castro Neto
Psiquiatra infantil



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