quinta-feira, 14 de março de 2013

UNI-DUNI-TÊ HOJE O BULLYING É PRA VOCÊ!


Crianças se magoam mutuamente, muitas vezes mais fundo do que deveriam. Sim, elas também tem um lado sombra e precisam conhecê-lo no seu devido tempo.


 Aos 9 anos, minha filha está vivendo sua primeira crise de relacionamento com um grupo de amigas que, ela está descobrindo na pele, não são tão amigas assim. Desde que o mundo é mundo, meninas se organizam em turminhas e exercem o tirano sentimento de exclusão (acho que meninos também fazem isso, mas nada que uma bola não atenue). Aprender a lidar com essa questão faz parte do desenvolvimento social, do crescimento, da vida, enfim... a gente sabe, mas como dói quando é com o filho da gente, não é mesmo?
Não sei você, mas eu fico muito frustrada nessas horas, principalmente por perceber que minha área de atuação é limitada: não vejo como eu brigar com as meninas que deixam minha filha de lado, muito menos ir tirar satisfação com os pais delas;desde que o conflito não envolva agressão física ou violência psicológica de alto grau, a mim só compete estar aqui e ampará-la nesse aprendizado. Sentar e conversar sobre o lado sombra que todo ser humano tem é um dos papos mais difíceis que já tive com a Bruna. Explicar como o ser humano é a única espécie viva que destrói e mata também não foi uma conversa muito fácil...
Outro dia, falamos da inveja que as pessoas alimentam umas das outras. Nessa hora recorri à uma estratégia que vem dando resultado: contar de um caso parecido que aconteceu comigo quando era criança. Pra a Bruna funciona muito saber que eu já tive 9 anos e chorei sozinha no quarto também quando uma amiguinha me magoou por dizer que meu cabelo era feio. Nesse nosso papo acabei emocionada por perceber que minha filha não tinha a mínima noção dos exemplos que eu dava, ou seja, que a inveja não era um sentimento familiar ao coração dela. Mas depois ficou um vazio no meu coração de mãe: me senti como um leoa que está ensinando os filhotes a caçar, sinalizando as armadilhas pelo caminho, os golpes certos que às vezes somos obrigados a dar.
Filhote rebelde, contestador, minha Bruna encheu a conversa de “porquês” e “não é justo”, deixando acentuar que não vai desistir da briga e nem de mostrar para as meninas que elas não estão agindo certo. Pensei em quantas vezes o coração dela vai ser partido e quanto tempo vai durar essa fibra toda! Fiquei emocionada novamente então, e cheia de esperança: a tristeza e a decepção são passageiras na vida dela, seu caráter e tenacidade, não.

O mundo tá aí fora cheio de historinhas assim. Seu filho e os meus são personagens delas, às vezes como protagonistas, líderes; outras vezes como os deixados de lado na trama. Crianças, como mini-adultos, reproduzindo o comportamento que eu chamo de "gincana pela popularidade": usar pulseirinha de causa, colecionar creme de grife, postar sorriso congelado só para mostrar que a foto foi tirada no lugar da moda. Pessoas grandes fazem alianças e conchavos para comprar popularidade e sucesso – e nossos filhos assistem a isso tudo, de camarote. O resultado é que reproduzam os valores (ou a falta deles) no ambiente escolar, no play, na festinha, armando cenas e situações que, de maneira alguma, são adequadas à idade e à experiência deles. Ser deixada de lado porque não é bom na queimada é uma coisa de criança, ser deixado de lado porque não tem carro luxuoso é outra coisa bem diferente.

Até agora eu pensava que o melhor a fazer era evitar deixá-los expostos a esse jogo. Mas estou enxergando um risco maior em não falar no assunto: que eles não sejam capazes de julgar o que é justo, apropriado, correto. E aí, por não saber, um dia meu filho (ou o seu filho) vira personagem da armação como protagonista, e pode gostar (eu confio que não, mas será o suficiente?) e nem perceber que está pisando na cabeça de outra pessoa, inebriado pela sensação fugaz de ser popular.
Decidi, portanto, que precisamos acompanhá-los, à distância, nesse jogo social, pois a atuação deles nesse contexto reflete um importante traço da personalidade em construção: a capacidade de fazer alianças; para cooperação, sim, mas também alianças em busca de status e recompensas. De qualquer modo, o que me amargura um pouco é a sensação de que isso está acontecendo um pouco cedo demais, e que isso pode ser resultado de uma super-exposição inadequada a valores adultos de popularidade a qualquer preço. Você pensa o quê sobre tudo isso?

 Adriana Teixeira





2 comentários:

rapha disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
rapha disse...

Olá Adriana, estamos com um novo site de jogos educativos e gostariamos do seu email para poder apresentá-lo.
http://www.gameseducativos.com/
Obrigado, abs