quinta-feira, 26 de abril de 2012

Ansiedade Infantil/Juvenil


No mundo atual, regido pelo imediatismo e onde, todos os dias, são várias as exigências sociais impostas, numa crescente disputa por um lugar ao sol, tornaram-se comuns o surgimento de patologias associadas ao stress e à ansiedade. Porém, ao contrário do que se possa pensar, não são apenas os adultos que se encontram vulneráveis a estes fatores causadores de perturbações psicológicas, afetivas e comportamentais. Também as crianças e jovens são vítimas deste mal da atualidade, dando origem, assim, ao conceito de Ansiedade Infantil.

Mas o que é a Ansiedade?


De um modo geral, a Desordem de Ansiedade caracteriza-se por um estado de ansiedade crônico, habitualmente infundado, intenso para além do considerado normal ou desproporcional em relação aos fatos/acontecimentos que se encontram na sua origem.


Habitualmente, expressa-se através de uma preocupação excessiva, incontrolável e frequentemente irracional, de tal maneira forte e intensa que interfere na vida e atividades do dia-a-dia da criança ou jovem que sofre desta perturbação.

Muitas vezes, a Desordem de Ansiedade expressa-se através de sintomas físicos, como a fadiga, a agitação, dores de cabeça, náuseas, tensão muscular, dores musculares, dificuldade de engolir, falta de ar ou dificuldade em respirar, tremores, irritabilidade, transpiração excessiva, insônia, perturbações do aparelho digestivo, etc.


Sendo uma das perturbações psicológicas mais comuns nos escalões etários infanto-juvenis, nas crianças a ansiedade exprime-se muitas vezes por um sentimento vago e desagradável de medo e apreensão, que surge associado a uma tensão ou desconforto, e que tem como base a antecipação infundada de perigos inexistentes. Leva a sentimentos de medo, stress e a uma insegurança sem razão aparente.

Contudo, as crianças, em geral, não têm noção do ponto em que os seus medos se tornam exagerados ou irracionais, pelo que é essencial que se leve em conta a duração dos sintomas, a adequação (ou não) dos medos à idade da criança, e a influência dos mesmos nas atividades do dia-a-dia, antes de se partir para um diagnóstico clínico

A ansiedade pode ainda associar-se a outras desordens como sejam problemas comportamentais, depressão, transtornos do desenvolvimento, quebra do rendimento escolar, dificuldades de concentração, entre outros.
De um modo geral, caracteriza-se por um sentimento de desesperança face à incapacidade de prever, controlar ou obter os resultados desejados em determinadas situações ou contextos.

A causa dos transtornos da ansiedade nas crianças e jovens é, muitas vezes, desconhecida e certamente multifatorial, sendo provocada por um conjunto diverso de fatores. O Modelo da Tripla Vulnerabilidade de Barlow, surge exatamente na tentativa de agrupar estes factores, procurando ajudar a prevenir o surgimento desta perturbação.
Assim, segundo Barlow, existem três factores de risco distintos que podem contribuir para o surgimento da Perturbação da Ansiedade:

1. Vulnerabilidade Biológica


Ou seja, a predisposição inata (desde o nascimento) para o surgimento da ansiedade devido a fatores genéticos.
Aqui inclui-se a influência do temperamento, que pode levar ao surgimento de comportamentos e percepções ansiogênicas (ex: Crianças mais medrosas), e da afetividade negativa (sentimentos negativos mesmo na ausência de fatores de stress): baixa autoestima, sentimentos de incapacidade, falta de persistência, dificuldade em lidar com as ‘derrotas’, etc.

2. Vulnerabilidade Psicológica Generalizada


Ou seja, sentimento de perigo ou ameaça incontrolável ou imprevisível; percepção de falta de controle e percepção das experiências como ameaçadoras.
Esta vulnerabilidade tem como base a relação entre a ansiedade e o sentimento de imprevisibilidade, percepção esta que tem origem nas experiências vividas durante os primeiros anos de vida, à medida que a criança vai aprendendo e desenvolvendo diferentes níveis de controle (ou falta deste), sobre os objetos e sobre o mundo externo.

À medida que a criança cresce, estas experiências determinam o surgimento de sintomas ansiogênicos na criança. Crianças que adquirem maiores níveis de controle sobre o mundo exterior têm tendência a ser mais seguras de si e menos medrosas. Por outro lado, crianças que não adquirem elevados níveis de controle sobre o mundo externo têm, logo à partida, uma maior probabilidade de virem a ser mais ansiosas e medrosas.
Como prevenção contra esta vulnerabilidade, salienta-se a importância da modelagem familiar e social (exemplos observados pela criança; em especial os pais, educadores e outras crianças de idades aproximadas), bem como o estilo parental educativo e o tipo de vinculação precoce estabelecido nos primeiros meses de vida.

3. Experiências Diretas ou Vulnerabilidade Psicológica Específica


Ou seja, situações anteriores traumáticas, ou provocadoras de grande ansiedade, como sejam acidentes, morte familiar, divórcio, mudança de casa ou escola, agressão ou maus tratos, entre outros.

A vulnerabilidade psicológica específica encontra-se ainda, muitas vezes, associada a fatores educacionais, como condicionamentos e a transmissão de informação negativa (ex: Uma criança que cresce a ouvir dizer que cães são perigosos manifestará comportamentos ansiogênicos quando se deparar com um cão, ou com outros animais que, para a criança, se assemelhem ao cão. De igual modo, uma criança que é castigada por mexer numa faca, poderá vir a desenvolver medos associados a objectos cortantes.).

Note-se, no entanto, que o aparecimento de um destes fatores de vulnerabilidade não implica que o indivíduo desenvolva uma desordem de ansiedade. Da mesma forma, um indivíduo que demonstre as três vulnerabilidades não é necessariamente um indivíduo ansioso, possuindo sim, um elevado risco de desenvolver uma Desordem de Ansiedade.


A intervenção em casos de Desordem da Ansiedade deve ser o mais precoce possível. De um modo geral, crianças que sofrem de perturbação da ansiedade, e que não são detectadas durante os estádios infanto-juvenis, têm tendência a desenvolver patologias mais graves como: fobias específicas, depressão, desvios comportamentais e comportamentos obsessivo-compulsivos, tanto na adolescência como na vida adulta.

Os pais têm, como sempre, um papel fundamental, tanto na prevenção como na identificação deste tipo de patologia, sendo essencial que se mantenham atentos às flutuações comportamentais dos seus filhos, oferecendo-lhes um ouvido atento sempre que necessário e apoiando-os na resolução de problemas.

Adaptado de Sophia Carpersanti

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