sexta-feira, 16 de março de 2012

"As crianças que se perdem no bosque"




Quando uma criança vai à escola é como se fosse levada a um bosque, longe de casa. Há crianças que enchem os bolsos de pedrinhas brancas e as jogam no chão, de modo a saber reencontrar o caminho de casa também a noite, ao luar. Mas há crianças que não conseguem providenciar pedrinhas e deixam umas migalhas de pão seco, como rastro para voltar para casa. É um rastro muito frágil e bastam as formigas para apagá-lo: as crianças perdem-se no bosque e não sabem mais voltar para casa.
A escola é como um bosque no qual alguns sabem reencontrar o própio caminho, sabem interpretá-lo e sabem orientar-se: passam o dia no bosque, divertem-se em descobri-lo, em conhecê-lo, através de seus bichinhos e de suas árvores e conseguem ligar tudo isso ao rastro e às lembranças que os levam pra casa. São donos de um espaço, porque são donos dos sinais para reconhecê-lo e para coligá-lo: a sua casa não está num lugar longínquo e inacessível, mas é uma possibilidade e, portanto, uma presença da qual podem afastar-se certos de retornar.
Outras crianças passam o dia no bosque e aprendem muitas coisas: conhecem árvores e plantas, animais e insetos, mas , no fim do dia, conhecem também o medo de não saber orientar-se, de não saber o caminho de casa. O bosque torna-se o lugar amedrontador no qual se perdem sem reconhecer os próprios rastros, sempre estranhos e sempre rejeitados.
As crianças que sabem voltar para casa sabem também ir para frente, no bosque e além do bosque. As crianças que se perderam não sabem voltar para casa e nem mesmo ir para frente, porque, a cada passo que fazem perdem-se um pouco mais, por não saberem reconhecer nada de si mesmos e das coisas que estão em volta deles. Caso se encontrem, não se reconhecem e nem mesmo sabem tornar-se companheiros de viagem. Não tem caminho, porque não sabem identificar os sinais que podem constituir um caminho e uma trilha, então são condenados a vagabundear sem espaço e sem tempo e podem preferir ser enjaulados.

Extraído de: CANEVARO, Andrea. I bambini che si perdono nel bosque.Identitá e linguaggi nellínfanzia. Firenze, La Nuova Italia, 1976.

O jogo metafórico e profundo do professor Canevaro nos faz refletir...afinal, alguns dos maiores desafios, na ação educativa, dizem respeito à necessária valorização da ausência de percursos preconcebidos . A criatividade deve nos auxiliar a ampliar "pistas" e a "elaborar novos roteiros".
Como as crianças que deixam as marcas para encontrar o caminho de volta, nós também partimos para as nossas viagens com bagagens variadas que mudam continuamente.


Afinal , " APsicopedagogia é um campo de atuação em Saúde e Educação que lida com o processo de aprendizagem humana: seus padrões normais e patológicos considerando a influência do meio - família, escola e sociedade - no seu desenvolvimento, utilizando procedimentos próprios da Psicopedagogia."

Um comentário:

Ana Paula Lazzarotto disse...

Belo post, Ana! Amei! Bjkas 1000! Saudades, amiguinha!