segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O PODER DA BIRRA - A teoria e a prática


Já escrevi anteriormente sobre a criança birrenta, algo que me preocupa e nos coloca diante de tomadas de decisões que muitas vezes, pais , educadores... não estão preparados. Não custa divulgar mais um artigo interessante do Dr. Posternak sobre o assunto. Recebi a dica de uma amiga muito querida ( por email) e resolvi postar.



Acho que todos já testemunhamos a cena de pais desnorteados, envergonhados, sentindo-se julgados por quem observa e sem saber o que fazer com o filho que se joga no chão, bate os pés e chora como se tivesse sido machucado ou magoado seriamente.

Ele está, simplesmente, xingando e demonstrando sua raiva porque os pais "ousaram" lhe negar a compra de um caríssimo brinquedo (que, por sinal, ele já tem em casa).

Os observadores dividem-se entre os que afirmam que seus filhos jamais fariam algo assim e os que acham que, se porventura isso viesse a acontecer, a cena acabaria rapidamente, com um par de palmadas. Com certeza, essas pessoas não têm filhos e nunca se defrontaram com essa situação.

Outra parcela dos espectadores tomará o partido da coitadinha da criança; achará que não pode ser traumatizada. Pode se tratar de uma doce vovozinha ou de pais com enormes dificuldades de colocar limites ou provocar a necessária frustração aos filhos, já que o mundo não vai lhes fazer todas as vontades. Chamamos "compensadores" os pais que conseguem isso.

A cena descrita pode se repetir muitas vezes em outros contextos do cotidiano, sem testemunhas, porém provocando a mesma reação dos pais.

Entre mais ou menos os 15 e os 30 meses, a criança passa pela chamada fase do negativismo ou da oposição. É fundamental que assim aconteça, já que está desenvolvendo sua personalidade, diferenciando-se dos pais e contrapondo seus desejos aos deles. Testa as pessoas e também sua capacidade de persuasão.

Essas cenas, as famosas birras, são provocadas pelo conflito criado entre o desejo e a intolerância à frustração de não ver satisfeito esse desejo. Podem ser desencadeadas também pelo fato de a criança não conseguir acabar com uma tarefa (encaixar algo etc.) ou quando tem de cumprir com alguma norma familiar que atrapalha sua brincadeira. A criança tem um objetivo claro: obter a qualquer custo a satisfação do desejo.

PARECE CLARO QUE NÃO SE TRATA DE COMBATER A BIRRA COM GRITOS OU TAPAS POR SER ALGO "FEIO". O QUE ESTÁ EM JOGO É QUE O FILHO APRENDA COM A EXPERIÊNCIA QUE A BIRRA NÃO É O MELHOR CAMINHO PARA CONSEGUIR O QUE QUER. ASSIM, O MELHOR "CASTIGO", QUE POR SINAL SEMPRE É SIMBÓLICO E NÃO REAL, É QUE ELE SAIBA QUE SUA BIRRA ACABA, SEUS PAIS NUNCA PERDEM A CALMA E QUE A FRUSTRAÇÃO (QUANDO PEDAGÓGICA) "NÃO MATA".

O recado é: "Você está bravo, tem direito de demonstrar isso, porém, quando seus pais falam ‘não’ é ‘não’ até você ficar tranqüilo".

Outra inadequação é oferecer aquilo que foi negado para acabar com a chateação do filho birrento. Assim só se reforça o poder da birra.

O que podemos esperar da educação que queremos dar aos nossos filhos? O que queremos lhes transmitir? Acho que concordamos que queremos, no mínimo, transmitir-lhes as condições básicas e suficientes de sua socialização. Ou seja, transmitir-lhes uma cidadania possível.

Às vezes, para não ser incomodados ou pela culpa por nossa ausência (sendo pior quando ficamos ausentes ainda que presentes), introduzimos imprudentemente os princípios da Revolução Francesa na educação dos filhos: igualdade, liberdade e fraternidade.

A família tem de ter níveis saudavelmente assimétricos, papéis bem definidos e normas a serem cumpridas. Se não se consegue entender e agir adequadamente, nos arriscamos a transformar um suposto escravo aborrecido em um tirano aborrecido.

DR. LEONARDO POSTERNAK É PEDIATRA E PRESIDENTE DO IFA (INSTITUTO DA FAMÍLIA)

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