terça-feira, 12 de abril de 2011

Parentalidade



Quando falamos em parentalidade, estamos falando no que foi transmitido por avós paternos e maternos aos pais e que chegarão carregados de suas histórias aos filhos.

Portanto a dificuldade das crianças é a dificuldade da família, um sintoma é sempre um sintoma familiar.

Falando das crianças que vocês atendem estamos diante de famílias com maior vulnerabilidade e fragilidade. Lembrando que “todas” as famílias apresentam em sua dinâmica fragilidade e vulnerabilidade em diferentes graus, temos que perceber que nas relações com estas famílias estão atravessadas também nossas angústias, ansiedades e conflitos.

Parentalidade é o processo psicológico que torna um sujeito pai e mãe.

O conceito de parentalidade passa por três eixos:

- Biológico (Genético)

- Jurídico (Legislação)

- Processo psicológico (afetivo emocional)

E de onde vem este conceito de parentalidade?

A mídia vende uma imagem de pai e mãe que efetivamente não acontece na realidade. Daí que a depressão pós - parto, atualmente, seja um problema de saúde pública. Não é unicamente hormonal, há causa afetiva, uma discrepância em relação àquilo que a sociedade exige e o que a mãe consegue fazer.

Outro ponto fundamental é que se decide ser mãe e pai por um desejo um narcisista de continuidade, de querer que o filho realize nossos ideais. Para que sejamos pais de qualidade razoável (e é o que basta) é preciso sair desse desejo ultra narcisista e egoísta para nos tornarmos altruístas, alcançar o amor incondicional.

Vincular ao outro (filho) como o outro é, não como eu quero e preciso que seja. Fazer luto do filho ideal e acolher o filho real é o processo de cura da ferida narcísica.

Os pais que têm filhos fora do padrão esperado em uma sociedade que ainda preza valores gregos terão muita dificuldade em cicatrizar esta ferida. Porque seus filhos entram em uma classificação, recebem um diagnóstico (CID) que demarca uma patologia. São considerados anormais.

Alguns pais levam muito tempo para elaborar este luto e outros podem não conseguir fazê-lo. Nestes casos temos que contar com a criança e deixar a família seguir seu processo.

A escola, que atende crianças com autismo, deve ser um lugar de acolher o avesso, o contraditório, a dita loucura, porque muitas crianças precisam desse espaço onde possam se desorganizar, para que em outros ambientes possam estar organizados.

É fundamental perceber que a diferença do aluno é a diferença da família, e que esta simultaneamente deseja a melhora do seu filho e também a manutenção da doença que lhe dá segurança, base.

Algumas vezes nosso papel (educador, terapeuta) passa por aceitar um não reconhecimento pelo nosso trabalho, porque para a família, quando damos conta da melhora do seu filho, marcamos seu fracasso na relação com essa criança. Temos que suportar esse lugar para que o trabalho possa evoluir.e nos tornanrmos parceiros dessa família.

E sem dúvida elogiar a família é uma saída saudável na relação escola e família.

Finalizando, a capacidade de narrar, contar, além de dar conta das necessidades básicas é a função mais rica da parentalidade.

Para que uma criança não psicotize é preciso que a criança tenha acesso as suas origens, sua história. Há por trás de toda psicose uma dúvida quanto a sua origem.

Se desejarmos ser pais de razoável qualidade, narrar nossa própria história é exterminar com os nossos fantasmas também.

Todos somos doentes e saudáveis e o conceito de saúde mental está longe de não estar doente. Tem a ver com estar melhorando, evoluindo, tendo como referência a vida de cada um e não vida do outro.


Celso Gutfreind

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Tragédia no Rio


Como lidar com a tragédia
"O primeiro passo é fazer com que toda a comunidade entenda que esta é uma situação de exceção", explica a pesquisadora Ana Maria Aragão, do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Moral (Gepem) da Universidade de Campinas. Gestores, pais, professores, alunos e funcionários precisam enfrentar o medo. À escola cabe o papel de organizar espaços legítimos para debater o assunto. Todas as perguntas colocadas em jogo têm de ser devidamente respondidas. Não se pode negar a situação ou estereotipar os fatos. É importante que todos entendam o que esse drama significa. "As crianças precisam falar como se sentem, expressar-se, seja por cartas, desenhos ou conversas", observa Ana. "É discutindo o trauma abertamente que se criam condições para que todos acreditem que isso não vai acontecer todo dia", complementa a pesquisadora.

Para reestruturar emocionalmente a comunidade escolar após o drama, uma alternativa é pensar em ações coletivas, que envolvam professores e equipe gestora. "O diretor da escola tem um papel fundamental e precisa agir rápido, convocar a equipe - professores e funcionários - para uma conversa aberta sobre o fato. A equipe tem de se sentir fortalecida porque, depois, é ela que vai trabalhar com os alunos", afirma Catarina Iavelberg, assessora psicoeducacional especializada em Psicologia da Educação.

Trabalhar em grupo é uma boa medida. Para ajudar os alunos, o ideal é escolher pessoas que tenham bons vínculos com as crianças para conversar com elas - um professor ou um coordenador mais próximo das turmas, por exemplo. Os pais também devem ser estimulados a estar dentro da escola. Ana Aragão lembra que "o que menos deve ser conversado nesse momento é sobre como aparelhar a escola ou impedir o acesso da comunidade ao espaço. É importante não centrar as discussões na busca por culpados nem criar explicações generalistas".

"No caso da Escola Municipal Tasso da Silveira, a equipe certamente será beneficiada se houver ajuda de psicólogos para lidar com o trauma", acrescenta Miriam Abramovay, coordenadora da área de Políticas Públicas da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO). Mostrar que o medo é real e dar tempo para que equipe escolar, alunos e comunidade lidem com o trauma são atitudes fundamentais. Nesse momento, deve-se acolher os sentimentos de todos para fazer com que a escola volte a funcionar.
Como fazer da escola um espaço seguro
Além de lidar com a comunidade escolar quando acontecem episódios como o do Rio de Janeiro, é importante o trabalho cotidiano que garanta um ambiente de segurança e de acolhimento. Para tanto, há que se colocar em xeque a ideia recorrente de que violência na escola se combate com mais policiamento e com a instalação de grades, catracas e outros dispositivos semelhantes. "No calor do momento, o trauma gerado por eventos como o do Rio leva a uma reação mais irracional e produz o efeito inverso ao necessário: a escola se fecha, se isola e investe em vigilância", explica o sociólogo Pedro Bodê, especialista em segurança pública da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Esse não é, no entanto, o melhor caminho. "Afastar a escola do mundo exterior vai contra a função dela, que é integrar", complementa.

O investimento em segurança se faz necessário em alguns casos - como o combate aos furtos e a outros delitos - mas não pode ser pautado por um evento excepcional. É preciso tomar cuidado para que um fato isolado não gere pânico nem precipite a tomada de medidas emergenciais. "Apesar do choque causado, é necessário racionalidade para evitar excessos", diz ele.

Mais do que fechar as portas e isolar os alunos, é importante trazer a comunidade para perto e tê-la como aliada. Isso se faz organizando uma espécie de "rede de proteção" que aproxime a escola de famílias, de lideranças comunitárias, de associações de bairro, de associações comerciais etc. Manter esta interação diminui a incidência de casos de violência e aumenta a capacidade de resposta a eventos imprevisíveis.

Para o sociólogo, outro equívoco é fazer comparações com episódios violentos ocorridos em escolas estrangeiras. "São todos casos excepcionais, com características e contextos particulares", afirma. Como explica Bodê, "é preciso criar condições de segurança não só na escola, mas em toda sociedade. E essa responsabilidade, ainda que o Estado tenha um papel importante, é da própria sociedade".


Revista Nova Escola

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Tristeza pela tragédia no Rio de Janeiro



Ataque à escola municipal foi uma tragédia anunciada, diz sindicato dos professores do RJ

Vítimas são nove meninas e um menino, além do atirador


A entrada do atirador na Escola Municipal Tasso da Silveira, no Rio de Janeiro, passando-se por palestrante, motivou o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do RJ (Sepe) a denunciar a falta de segurança vivida no estado. A coordenadora do Sepe, Vera Lúcia Freitas Silva, está desde de manhã na escola municipal e diz que a entidade pretende iniciar uma manifestação na sexta.

— É uma tragédia anunciada. Há muitos voluntários, estagiários e substitutos que circulam nos colégios, não há controle na entrada. Qualquer pessoa entra. O correto é ter professores concursados suficientes e restringir a entrada — afirmou Vera Lúcia.

Em nota oficial, o Sepe declarou já ter denunciado diversas vezes as agressões a professores, brigas de alunos, balas perdidas e confronto de quadrilhas de traficantes dentro de colégios ao Ministério Público e à Câmara de Vereadores.

Na manhã desta quinta-feira, Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, entrou no colégio e matou nove meninas e um menino e em seguida cometeu suicídio. Ele ainda feriu 17 alunos.

— Há muitas pessoas aqui na rua. Conversei com professores, mas eles estão muito traumatizados, não conseguem falar. Segundo eles, há muito sangue nas salas de aula — disse Vera Lúcia.

Até as 14h, a secretaria de Segurança do Rio de Janeiro confirmou onze crianças mortas e 13 feridas. O atirador cometeu suicídio, após levar um tiro de um policial.

(Zero Hora)



Minha solidariedade às familias que perderam seus filhos neste momento trágido e inexplicável. A indagação permanece: O que faz um ser humano cometer tamanha atrocidade contra crianças indefesas dentro de uma sala de aula ??? Urge REPENSAR a EDUCAÇÃO... em todos seus aspectos!!!